Está mais do que na hora de os empresários se engajarem também, e de maneira ativa, na reforma da previdência. É um tremendo absurdo o que a classe política tem feito nos últimos dias com o intuito de barganhar exceções na proposta visando atender demandas nos seus currais de votos, às vésperas da campanha de 2018. Trocando em miúdos: os congressistas estão depenando um projeto que é vital e histórico para o Brasil em troca da possibilidade de extensão de seus respectivos mandatos, usando o projeto como moeda de troca com os eleitores.

Almejam manter o status quo no poder e isso se sobrepõe a qualquer interesse nacional de maior relevância. Vai custar caro! Bilhões aos cofres públicos, já em franca penúria devido ao rombo da previdência que não para de crescer. Virão, na esteira dessas concessões, mais impostos e menos investimentos públicos em virtude da necessidade do redirecionamento de recursos para tapar o buraco. Por conveniência das negociações partidárias e para evitar maiores pressões dos grupos mais articulados, o Governo de Michel Temer já havia deixado de fora da reforma da previdência os militares, policiais civis e bombeiros.

Há algumas semanas, depois de seguidas ameaças de parlamentares, que sinalizavam vetar o projeto na íntegra, foram também isentos de mudanças os servidores públicos estaduais e municipais. 86% da categoria em todo o Brasil estarão de fora, um contingente de quase seis milhões de funcionários. Não faz sentido! A cada dia que passa, a reforma vai ficando mais desfigurada devido aos lobbies. E o que é pior: nessa toada ampliam-se as distorções seculares que sempre marcaram trabalhadores da iniciativa privada e do setor público. Uma reforma que originalmente mirava a eliminação de privilégios deu uma guinada e provavelmente acentuará seus efeitos.

Os parlamentares, que até aqui são regiamente remunerados e favorecidos com boas aposentadorias pelos critérios em vigor, estão entre os primeiros a advogar que a distorção se perpetue. Sabotam a previdência e, por tabela, o futuro econômico do País. Não há como ignorar que milhares de brasileiros foram às ruas para protestar contra as regras em discussão, temendo a diminuição dos benefícios e o aumento do tempo de trabalho para garantir o retorno almejado. Por isso mesmo, um movimento de conscientização deveria incluir o apoio dos políticos e dos empresários, alertando sobre os riscos de colapso do sistema logo nas próximas gerações.

Essa catequização tem dependido até hoje, exclusivamente, dos comunicados oficiais e das campanhas do Governo. É de lamentar que deputados e senadores – mesmo no bloco dos aliados – resistam a assumir a bandeira de uma reforma urgente, equilibrada e inevitável com a distribuição equânime dos sacrifícios. Está em jogo o bem estar de todos e tapar os olhos ao problema, empurrando a conta para a frente, não configura uma boa alternativa. A pororoca de dívidas vem ficando insustentável. Estados e municípios serão os primeiros a sentir o impacto, promovendo calotes aos beneficiários. Logo o risco se alastrará para todos os lados.

(Nota publicada na Edição 1013 da revista Dinheiro)