Dois amigos – Bruno Monteiro Aiub (Monark) e Igor Coelho (3K) –, uma ideia promissora e um sucesso meteórico. O podcast Flow, nascido há menos de cinco anos em um quarto comum numa casa alugada em Curitiba, com microfones amadores e câmeras básicas, quase acabou porque confundiu liberdade de expressão com apologia ao crime. O episódio, que completou um ano em fevereiro, era uma entrevista com os deputados federais Tabata Amaral (PSB-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP). Nele, Monark defendeu a existência de um Partido Nazista no Brasil, o que por aqui é crime (a partir de decisão do STF sobre a Lei 7.716/1989). A péssima repercussão fez patrocinadores de peso (como Amazon Music, Amazon Prime, Bis, iFood, Ragazzo e WiseUp) cancelarem R$ 7,6 milhões em contratos. A saída, para não acabar, foi o rompimento amistoso entre os sócios e a compra da parte de Monark por Igor Coelho. Tudo conforme diz a empresa. Depois disso, uma reformulação total que deve levar o grupo a faturar este ano R$ 30 milhões.

Por seu estilo livre e descompromissado, o canal virou um negócio poderoso. Tanto que no ano passado atraiu os presidenciáveis Jair Bolsonaro e Lula — a participação do petista teve 1,1 milhão de espectadores simultâneos.

O sucesso levou a empresa a expandir seus conteúdos e permite projetar um valuation de R$ 100 milhões até 2025. No ano passado, o projeto teve ‘quase break even’, com faturamento de R$ 14 milhões, superados em R$ 2 milhões pelos custos de operação que alcançaram R$ 16 milhões no mesmo ano. A conta não fechou justamente pelo episódio do Partido Nazista, o Monark Day, como o grupo chama o ocorrido. A receita mensal caiu de R$ 1,5 milhão para quase zero.

André Gaigher, CEO dos Estúdios Flow, cuidou da limpeza para a reconstrução. Reduzir os grandes salários, como o de Igor, que batia os R$ 100 mil e foi cortado para R$ 10 mil. Executivo que já tinha um passado corporativo em empresas como L’Oréal, P&G e Uber, Gaigher foi decisivo no plano de contenção que ajudou o Flow a se manter. “A gente espera voltar ao patamar anterior ao Monark Day só no fim deste ano, mas já estamos conseguindo investir para crescer e expandir”, disse.

A composição do estúdio agora é de 4 verticais e mais de 11 programas (ver gráfico), contando o Flow, o principal, mais Avesso, Canal Amplifica, Ciência sem Fim, Flow S.A., Flow Sport Club, Kritikê, Noir, Prosa Guiada, Salve Salve, Família e Vênus. Juntos eles somam mais de 45,8 milhões de seguidores e 7,3 bilhões de visualizações. O formato mais novo dessa família é o Flow News, com foco em notícias e debates, tendo como apresentador o ex-âncora da rede Globo, Carlos Tramontina.

O total investido nos novos verticais é estimado em R$ 12 milhões, dos quais R$ 2 milhões em infraestrutura dos novos estúdios e o restante para a produção de conteúdo. A receita do grupo já voltou ao patamar de janeiro de 2022, e R$ 7 milhões em contratos foram assinados em janeiro deste ano.

REVÉS Já Monark tentou um espaço próprio no YouTube, mas acaba de enfrentar outro revés. O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou em fevereiro, por decisão unânime, a desmonetização do canal. Caminho oposto ao do Flow que, com investimentos e muitos projetos tem valuation de R$ 50 milhões. A expectativa é alcançar R$ 100 milhões até 2025, além de conquistar em cinco anos faturamento anual de R$ 200 milhões. Prova de que obter resultado no mundo do conteúdo exige um pilar: a credibilidade.