A inteligência artificial quer decidir até a construção da melhor máscara respiratória para seu sono. Para isso, vai analisar 46,2 mil pontos de sua geometria facial — sim, difícil imaginar tantas informações assim em um rosto — e, baseada em uma pesquisa de dez anos de escaneamento facial, vai desenhar o perfeito acessório. Esse software foi apenas uma das inovações da Philips durante a Hospitalar, maior feira do setor no Brasil. A companhia holandesa é uma das três líderes mundiais no mercado de tecnologia de saúde, junto de Medtronic e Johnson & Johnson. Dentro desse escopo maior do setor e empresas, espera-se que a receita global em 2022 seja de US$ 523 bilhões, segundo o Statista — sendo US$ 435 bilhões, ou dois terços, só na fatia de aparelhos médicos. Desse grande bolo, em 2021 a Philips gerou vendas de US$ 18 bilhões.

O crescimento dessa indústria, que se mostrou contínuo nos últimos anos, deve acelerar com as inovações tecnológicas, uso de inteligência artificial e nuvem como ponte para aplicativos de saúde e que concentram dados de pacientes. O volume desses dados está crescendo 48% todos os anos — justamente um dos focos da Philips. A empresa mostrou na Hospitalar sua atualização da solução de monitoração de pacientes flexível e escalável Efficia, que já atende mais de 200 milhões de pacientes todos os anos. E ela ainda tem a versão móvel, a IntelliVue Guardian Solution. Essa é a ponta da importante e essencial monitoração de pacientes em hospitais. A eles se somam ultrassons portáteis como o Lumify, usados para atender mais de 80 mães em cidades brasileiras sem acesso a médicos especialistas, em parceria com a organização sem fins lucrativos SAS Brasil. “A digitalização e a maior conectividade estão impulsionando um crescimento exponencial de dados”, disse Patricia Frossard, country manager da Philips no Brasil. Isso cria novas oportunidades de gerar insights de saúde personalizados com a ajuda de inteligência artificial e análise de dados, segundo ela.

PEQUENO E NOTÁVEL O ultrassom portátil Lumify. Empresa junta às inovações tecnológicas um universo cada vez maior de dados para soluções completas de saúde. (Crédito:Todd Pearson)

O CONTINUUM… O primeiro trimestre de 2022 representou para a Philips uma queda de 4% nas vendas comparado com 2021, mas um aumento de 5% em entrada de pedidos, potencializada por negócios de diagnóstico & tratamento e monitoramento de pacientes em hospitais. A expressão chave da companhia nesse ecossistema de mercado é “continuum da saúde”. Ou seja, em primeiro lugar produzir soluções para juntar o fluxo de dados dos pacientes e ajudá-lo a realmente reter esses históricos médicos para quando precisar mostrar a um profissional.Em segundo, ajudar o médico a fazer um diagnóstico correto logo na primeira consulta. Finalizando com apoiar a recuperação do paciente em casa.

É quase um sonho de todo paciente que tem de toda vez repetir informações comuns de seu estado clínico, suas doenças crônicas. É uma tarefa que exige uma sincronização de dados por enquanto incomum em nossas vidas médicas. “À medida que a empresa aborda a saúde como um ‘todo conectado’, permite desbloquear ganhos e eficiências e impulsionar inovações que ajudam a melhorar a saúde das pessoas e possibilitam melhores resultados a um custo menor”, afirmou Patricia. Um estudo levantado pela Philips mostra que 84% dos líderes de saúde brasileiros apostam em prontuários digitais para potencializar a transformação digital do segmento.

Claudio Gatt

“A digitalização e conectividade estão impulsionando um crescimento exponencial de dados” Patricia Frossard Country Manager da Philips.

A empresa tem um objetivo gigante em seu horizonte: o de melhorar 2,5 bilhões de vidas por ano até 2030, tendo na manga um investimento de US$ 1,9 bilhão em pesquisa e desenvolvimento só em 2021. Um exemplo está ligado ao já mencionado software de máscaras de sono personalizadas. Nesse setor, a Philips coletou 2,8 bilhões de noites de dados de terapia do sono baseados em nuvem ao longo de dez anos, com mais de 5 milhões de dispositivos de terapia e ventilação conectados. É um conhecimento que esquadrinhado e processado com inteligência artificial agrega muito valor para um diagnóstico médico.

Nessa área, no entanto, a empresa teve um revés com um recall em 2021 de seus aparelhos de sono e respiração da linha Respironics, que impactou para baixo em 21% o setor de Connected Care neste começo de ano — a FDA americana soltou em 2022 um relatório que afirma que 124 mortes estariam ligadas a esses aparelhos, que soltariam pequenas partículas causadoras de problemas nos pacientes, incluindo câncer. A Philips acionou o recall de 15 milhões de aparelhos, inclusive no Brasil — e comunicou que em conjunto de um grupo médico externo determinou que o nível de compostos orgânicos voláteis não resultariam em consequência no longo prazo. Ainda assim, o recall continua. Para 2022, ela espera enfrentar ainda a inflação na economia mundial, lockdowns de Covid acontecendo na China, supply chain e a guerra Rússia-Ucrânia. Haja remédio.