Em momentos terraplanistas, misturar ciência com política não parece ser bom negócio. Mas misturar ciência com negócio parece ser a melhor política. A prova vem dos números. Na quarta-feira (2), as ações da Thermo Fisher Scientific fecharam cotadas a US$ 478,89. Um salto em comparação a qualquer cenário: pré-pandemia, início da pandemia, auge da pandemia. Há um ano, os papéis foram negociados a US$ 313,04 (alta de 53% em 12 meses). Em relação ao fundo do poço, em 23 de março, quando fechou a US$ 255,30, a elevação é ainda mais expressiva: 87%. Hoje, o valor de mercado da empresa encosta nos US$ 190 bilhões. Equivale à soma das três maiores corporações da B3: Petrobras, Vale e Itaú-Unibanco. “O ponto principal é a importância da ciência”, afirmou à DINHEIRO Rodrigo Moura, diretor-geral da Thermo Fisher Scientific Brasil. “O maior aprendizado nesse período é que ela está cada dia mais relevante. Não tem como a gente negar isso, né?”

O culto à ciência está no DNA da corporação, dedicada a abastecer um vasto leque da indústria de saúde — de laboratórios a instrumentos e insumos, o que faz a empresa ter clientes que vão de laboratórios a governos. Os investimentos em inovação são da ordem de US$ 1 bilhão ao ano. “Direcionamos esses recursos para onde acreditamos que nossos clientes vão se beneficiar”, afirmou Marc Casper, chairman e CEO global da empresa, em sua carta aos investidores. Com essa filosofia, as receitas da Thermo Fisher Scientific cresceram 50% em cinco anos, saindo de US$ 16,97 bilhões (2015) para US$ 25,54 bilhões (2019). São 75 mil empregados em todo o mundo. Isso representa uma receita per capita de US$ 340 mil por ano.

Apesar de desconhecida do consumidor comum, a marca tem uma história centenária, que uniu há 14 anos a Fisher Scientific com a Thermo Electron. A primeira foi fundada em 1902, na Pensilvânia, pelo engenheiro Chester Fisher. Desde sempre tendo foco na ciência. Em 1915, a empresa estabeleceu uma pioneira área de P&D. Já a Thermo Electron é de 1956. Foi cofundada por um egresso de Harvard (Peter Nomikos) e outro do MIT (George Hatsopoulos). Em resumo, educação, formação, inovação e pesquisa são o moto-perpétuo da empresa, que se divide hoje em quatro verticais: Produtos & Serviços para Laboratórios (responsável por 39% das receitas), Ciências da Vida (25%), Instrumentos (21%) e Diagnósticos (15%). Na prática, a corporação é uma espécie de transversal de soluções para todo o segmento de saúde.

Claudio Gatti

“O maior aprendizado nesse período é que a ciência está cada dia mais relevante. Não tem como a gente negar isso, né” Rodrigo Moura, Diretor-geral da Thermo Fisher Scientific Brasil.

TESTAGEM A busca incessante por inovação trouxe para a empresa este ano uma espécie de quinta unidade de negócios: a testagem genética. Nos primeiros quatro meses de existência da área o faturamento foi de US$ 3 bilhões. A expectativa da companhia é fechar 2020 com até US$ 5 bilhões no novo business. Para Moura, essa demanda demonstra um novo comportamento da população em relação à saúde. “É preciso reforçar a importância da ciência no desenvolvimento da sociedade e do bem-estar das pessoas.”

A interseção de saúde, tecnologia e novos padrões de comportamento dará ainda mais ênfase à unidade brasileira, que tem 500 colaboradores. Localmente, a Thermo Fisher atua desde a operação até a linha de atendimento ao cliente. O que inclui uma espécie muito particular de público-alvo: o pesquisador acadêmico. “São milhares. E eles dependem das nossas soluções para fazer as pesquisas, seus trabalhos”, afirmou. Para uma conversa mais próxima com esse consumidor final especializado, a empresa criou conta em português no Instagram – apenas a matriz americana também tem perfil na rede social. Moura diz que ela será importante para atrair talentos. “É preciso divulgar a imagem da empresa, a nossa cultura, e por meio dela ajudar a trazer uma diversidade de talentos.”

O que inclui pessoas e o universo de startups. A corporação atua com inovação dentro dos próprios muros, por meio de parcerias e projetos de atração de startups e ainda com grandes instituições de pesquisa e entidades governamentais. É quase uma linha de montagem de inovação. Por todos os poros. No Brasil, um programa de atração de startups locais existe há um ano. “A gente tem uma missão corporativa muito clara: ajudar os nossos clientes a tornar o mundo mais saudável, limpo e seguro.” Vivendo a busca pelo conhecimento a cada segundo a Thermo Fisher mostra que acreditar na ciência dá bem mais dinheiro que negá-la.