Inflação nas alturas, matéria-prima mais cara, crise no abastecimento. O segmento de pneus enfrenta desafios comuns à indústria em geral no Brasil. Dificuldades que resultaram em queda de 2,8% nas vendas no primeiro trimestre de 2022. Um cenário pouco animador, mas que não reflete a realidade da CantuStore. Com 16 anos de atuação no mercado de reposição, a maior distribuidora de pneus do Brasil aposta na pulverização de fornecedores pelo País e no exterior para manter a sequência de resultados recordes. Depois de atingir faturamento bruto de R$ 1,6 bilhão no ano passado, a empresa alcançou a receita bruta de R$ 479 milhões entre janeiro e março deste ano, outra marca histórica, e prevê nova temporada de crescimento. “O primeiro trimestre é um bom proxy do ano”, disse à DINHEIRO Beto Cantu, CEO da CantuStore. Para ele, o momento de crise sempre foi mais uma oportunidade de ganhar market share, como ocorreu em 2020 (na pandemia), do que um problema que ameaça o modelo de negócio. “Vemos um cenário bem estável para a nossa empresa nos próximos meses.”

A CantuStore tem 4,2% de participação em um mercado, segundo o executivo, bastante fragmentado e que movimenta anualmente cerca de R$ 50 bilhões. As apostas da companhia para seguir em alta são os mais de 40 fornecedores, liderados por bandeiras tradicionais como Bridgestone, Continental, Goodyear, Michellin e Pirelli, além de suas duas marcas próprias: SpeedMax, voltada a canais de frotas e revendas, e a Itaro, direcionada ao B2C on-line. No ano passado, as duas representaram cerca de 10% das vendas e, no primeiro trimestre de 2022, 20%.

A diversificação de produtos se mostra outra importante rota de crescimento da empresa, que iniciou a jornada com o comércio de pneus para caminhão. Depois vieram os de passeio, mineração, agrícola, motocicleta e mais recentemente bicicleta, quadriciclo e UTV (gaiola). “Como estamos apenas na reposição não dependemos da venda de carros novos, não somos indústria e, sim, a plataforma do setor. Queremos ser o elo na reposição.” Os modelos destinados aos segmentos de motos, caminhões e agronegócio estão entre os que apresentaram o maior crescimento entre janeiro e março deste ano, de 181%, 78% e 203%, respectivamente. “São as estrelas do nosso portfólio.”

CRESCIMENTO A demanda em alta requer produtos para pronto atendimento. E eles estão disponíveis. A CantuStore possui 1 milhão de pneus no estoque, reforçado no fim do ano passado diante da perspectiva de crescimento de 6,5% do mercado em 2022, para 60,3 milhões de unidades, de acordo com a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). Em 2021, as vendas totais apresentaram incremento de 9,6% em relação a 2020 (56,7 milhões contra 51,8 milhões). Na pré-pandemia foi de 59,5 milhões.

A CantuStore vendeu R$ 2,5 milhões de exemplares em 2021, alta de 67% na comparação anual. Do total 48% foram por meio do PneuStore. Criado há dez anos, o e-commerce da empresa respondeu por quase 41% — ou R$ 500 milhões — da receita líquida, de R$ 1,3 bilhão. Além do canal de compras direcionado a pessoas físicas, a CantuStore vende diretamente para locadoras de veículos, além de frotistas de caminhões, por exemplo. “Somos uma empresa de tecnologia e logística que decidiu transformar o mercado de pneus.”

Além do bom desempenho do comércio digital, a ampliação dos ganhos foi possível pela criação de serviços ao consumidor. O primeiro foi o Pneu Store Móvel, no qual 13 vans fazem a entrega e a montagem em domicílio dos produtos comprados pelo site. O outro foi a comercialização de serviços prestados por parceiros da CantuStore que, por exemplo, montam, alinham e balanceiam os pneus.

Apesar da confiança na economia e na política, o CEO cita alguns desafios para a empresa no decorrer de 2022 relativos principalmente a barreiras, impostos, câmbio e inflação. “Essa tendência mundial de protecionismo, de menos comércio internacional, me preocupa”, disse Cantu. “É importante que o Brasil continue desonerando, deixando que as empresas ofereçam soluções mais competitivas para o consumidor final, baixando os preços.” Os níveis do dólar (70% a 80% do preço de um pneu é dolarizado) e da inflação também preocupam, e são, na opinião dele, situações que o governo — independentemente de direita ou de esquerda — precisa “olhar com atenção”. Para que, assim, a roda da economia possa continuar a girar sem trepidações ou até mesmo quebrar.