Após semanas de tensão, a Rússia anunciou na última terça-feira (15) que iniciaria a retirada de parte das tropas militares próximas à fronteira com a Ucrânia, mas os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seguem afirmando que a sinalização pacífica do Kremlin russo é teatro para planejar os próximos passos.

Nesta quinta-feira (17), o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Vladimir Putin estava buscando pretextos para invadir a Ucrânia e iniciar uma guerra que pode contar com o envolvimento de diversos países e se arrastar por anos.

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Neste momento, o que sustenta a tese de Washington é que o governo russo pode mentir sobre mortes ou realizar ataques químicos com o objetivo de culpar o país vizinho, ex-domínio da então União Soviética durante o período da Guerra Fria, e promover uma invasão.

Ainda ontem (17) aconteceu um bombardeio na região de Donbas, leste da Ucrânia, região em que rebeldes apoiados pela Rússia lutam contra o governo local desde 2014 (entenda mais abaixo). Nenhum dos dois lados apresentou informações claras sobre quem fez o ataque, porém o que se sabe é que uma escola infantil teria sido atingida, segundo a BBC.

Um comboio de equipamento militar posicionado às margens do Lago Donuzlav, na Crimeia, em imagem de satélite da Maxar Technologies de 15 de fevereiro de 2022
Um comboio de equipamento militar posicionado às margens do Lago Donuzlav, na Crimeia, em imagem de satélite da Maxar Technologies de 15 de fevereiro de 2022 (Crédito:Satellite image ©2022 Maxar Technologies/AFP)

Tanto a Otan, quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, viram no bombardeio uma encenação do exército russo para justificar uma possível invasão.

Porque uma guerra entre Rússia e Ucrânia?

Dois dos maiores países da Europa em tamanho, Ucrânia e Rússia também comandam dois dos maiores exércitos do mundo. Neste momento, o que irrita Putin e seus comandados é uma possível aliança militar entre Kiev e a Otan.

A aproximação entre a organização intergovernamental e os ucranianos podem colocar o Ocidente em espaço estratégico no leste europeu, facilitando, além de acesso a recursos naturais, bases militares para possíveis conflitos no futuro.

A crise que ganhou novos contornos nessas últimas semanas teve início em novembro, quando Putin deslocou mais de 100 mil soldados para a fronteira com a Ucrânia. Ele nega, no entanto, que a movimentação vise um ataque, o que é questionado por todos os países que não estão aliados à Moscou.

Conflito que se arrasta desde 2014

Entre o final de 2013 e o início de 2014, o governo de Viktor Yanukovych (próximo de Putin) foi deposto por um movimento popular que confrontava a permissividade da administração frente aos interesses russos e ao entrave a uma aproximação com a União Europeia – aliança que a Rússia não aceita. O conflito gerado pelos “Euromaidan” levou Putin a anexar a região da Crimeia (espaço com saída para o mar e bem abaixo da Ucrânia), em março daquele ano, por temores de que a União Europeia e a Otan pudessem ganhar espaço na política ucraniana.

Mapa da região em conflito na fronteira com a Ucrânia e Rússia
Mapa da região em conflito na fronteira com a Ucrânia e Rússia (Crédito:Agência Brasil)

A movimentação gerou uma guerra civil na região de Donbass, centro da confusão que colocou o mundo em compasso de espera – a região é o mesmo local onde aconteceu o bombardeio desta quinta-feira (17) .

Em oito anos de conflito, mais de 14 mil pessoas morreram, porém em 2015 um acordo entre os dois países, mediados pela França e Alemanha, fez com que o embate diminuísse. Assinado há 7 anos, os acordos de Minsk estão travados pois a Rússia não quer reconhecer a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk – o que garantiria à Ucrânia o controle dessas terras.

A movimentação é vista pela geopolítica como uma forma de Putin seguir impondo suas próprias regras e evitar uma expansão de Kiev sobre as fronteiras com o país.

Conflito econômico

No meio de todos esses problemas, a discussão econômica é outro fator importante que explica o temor das grandes potências: além do poderio militar russo (que controla armas químicas e nucleareas), os países temem uma retaliação mais firme contra a Rússia exatamente porque os russos são um dos maiores exportadores de petróleo e gás no mundo. Cerca de 40% do gás consumido na Europa é retirado diretamente do solo russo.

Isso sem contar que a Rússia também é importadora de diversos produtos no mercado internacional. O Brasil, por exemplo, vende muita commoditie e fertilizantes para o país de Vladimir Putin.

Nesta sexta-feira (18), Putin disse que o país precisa trabalhar para aumentar sua soberania econômica e que o Ocidente sempre encontrará um pretexto para impor sanções a Moscou.