Desde a invasão da Rússia na Ucrânia muito se fala em guerra cibernética ou híbrida. Apesar dos tanques e os ataques convencionais estarem concentrados na região do leste europeu, os reflexos virtuais desse embate podem ser sentidos no mundo todo, inclusive no Brasil. 

O especialista em tecnologia e segurança digital e professor da Fundação Getúlio Vargas Arthur Igreja aponta que assim como ocorreu a digitalização nas compras, varejo, indústria e relacionamentos, as operações militares também se utilizam de avanços no campo digital, e a Rússia é um importante local onde os hackers atuam.  

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“Antes mesmo da invasão física os ciberataques contra determinados sistemas ucranianos já estavam acontecendo. E grupos como os Anonymous já realizaram um contra-ataque tirando, inclusive, o site da agência de notícias estatal russa do ar. Você pode ter pessoas desse grupo atuando no Brasil remotamente”, explicou. 

Espaço virtual não tem fronteiras 

Ao contrário da chamada guerra convencional, a guerra cibernética não se limita ao espaço geográfico. Sendo assim, ataques a sites e sistemas russos ou ucranianos podem, sim, afetar serviços em outros países, como o Brasil.

“A internet é absolutamente interligada e desconhece barreiras geográficas. Pode existir um grupo russo fazendo ataque a um portal ucraniano, só que esse site pode estar armazenado numa nuvem da Microsoft, que é americana, e nessa nuvem pode estar hospedado um e-commerce de uma empresa brasileira ou até uma base de dados do governo”, disse Igreja. 

Ataques podem atingir instalações físicas

Um dos exemplos de ataque cibernético, sem nenhuma relação com a guerra, foi o da base de dados do Sistema Único de Saúde no final do ano passado, quando o sistema ficou mais de um mês fora do ar. O ataque causou inúmeros transtornos, já que o acesso ao comprovante de vacinação contra a Covid-19, por exemplo, ficou indisponível. 

Apesar de partir do ambiente virtual, os ataques cibernéticos não estão restritos a sites e banco de dados, mas podem atingir sistemas como o de funcionamento de usinas ou de hospitais. 

Para o especialista, o Brasil precisa ter uma estratégia de defesa baseada em uma política de proteção de dados mais efetiva, pois ataques como esses serão cada vez mais comuns mesmo fora de um contexto de guerra. 

“Você pode sofrer ataques de grupos que fazem aquilo que se chama de “hacker ativismo”. Eles podem ser contrários a um governo e encontram esse canal para atacá-lo. É como se fosse uma passeata, uma manifestação na rua. O ponto de partida é o reconhecimento de que essa pauta vai ficar cada vez mais importante e temos que estar preparados”, finalizou.