As autoridades russas rejeitaram nesta sexta-feira (11) as conclusões de uma investigação que relaciona o assassinato no ano passado na República Centro-Africana de três jornalistas russos ao grupo paramilitar Wagner financiado por um aliado do Kremlin.

O repórter Orkhan Dzhemal, o documentarista Alexander Rastorguyev e o cinegrafista Kirill Radchenko foram mortos em julho por homens armados no norte da RCA.

Um meio de comunicação pertencente ao oligarca russo no exílio Michal Khodorskovski financiava o projeto da equipe, que investigava as atividades de mercenários russos no país africano, em particular o grupo Wagner, que ficou conhecido principalmente na Síria.

Os três homens foram mortos por um “grupo de homens negros que falava árabe” e que queria roubá-los, informou o Comitê de Investigação russo, responsável por casos importantes, reiterando a versão fornecida pelas autoridades russas.

Na quinta-feira, uma investigação do veículo “Dossier”, também financiado pelo oligarca exilado, assegurou que um segurança centro-africano em contato com alguns russos ligados ao empresário que financiaria Wagner e ao conselheiro militar russo na presidência centro-africana seguia a equipe de jornalistas.

De acordo com esta investigação, o motorista dos jornalistas, que estava presente quando eles foram mortos, usava um nome falso e transmitia informações ao segurança encarregado de segui-los, informou à AFP Maxim DBar, assessor de imprensa de Khodorkovsky.

Este motorista foi recomendado a eles por um jornalista de um meio controlado por Ievgueni Prigojin, um empresário próximo do Kremlin que financiaria, de acordo com a imprensa, o grupo de mercenários Wagner.

O Comitê de Investigação descreveu essas conclusões como uma tentativa de “justificar” o envio de jornalistas “desprotegidos” para uma área particularmente perigosa.

Desde que morreram, autoridades russas e a imprensa próxima ao Kremlin questionam o profissionalismo e a preparação dos três jornalistas.

A Rússia dispõe oficialmente de instrutores civis na República Centro-Africana.

Os militares centro-africanos são formados por Moscou no vasto palácio de Berengo, 60 km a oeste da capital, um lugar onde vivia Jean-Bedel Bokassa, presidente e então imperador de 1966 a 1979.

De acordo com fontes ocidentais, esses instrutores seriam mercenários intimamente ligados a empresas de mineração russas.

Vladimir Putin reconheceu em dezembro a existência de mercenários e afirmou que tinham “o direito de trabalhar” no exterior, desde que respeitassem a lei russa.