O presidente russo, Vladimir Putin, surpreendeu nesta quarta-feira (12) ao propor ao Japão virar a página da Segunda Guerra Mundial com a assinatura, até o fim do ano, e “sem condições prévias”, de um tratado de paz, apesar da disputa sobre as Ilhas Kuril.

Putin fez a proposta em Vladivostok, no Fórum Econômico Oriental, na presença do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que acabara de fazer um apelo a favor do tratado, objeto de intensas negociações nos últimos anos entre Moscou e Tóquio.

“Há 70 anos buscamos solucionar nossas diferenças. Há 70 anos que estamos negociando. Shinzo disse ‘vamos mudar de abordagem!’. Efetivamente venha! Vamos assinar um tratado de paz até o fim do ano, sem condições prévias”, declarou Putin, para aplausos de um público integrado em grande parte por empresários asiáticos, em especial japoneses.

O discurso de Putin contrasta claramente com declarações anteriores, nas quais o presidente russo se mostrava muito prudente.

Em maio, Putin afirmou que era necessário paciência e que era “ingênuo pensar que é possível resolver em uma hora” a divergência. Ao mesmo tempo, afirmou que estava disposto a buscar soluções convenientes para Rússia e Japão.

O porta-voz do governo japonês reagiu, porém, de modo frio à proposta de Putin. Ele se recusou a comentar as “intenções” e recordou o “claro princípio” de que Tóquio assinará o tratado apenas “após uma solução para o problema de atribuição” das ilhas em disputa.

As relações entre Moscou e Tóquio estão envenenadas pelo litígio a respeito das quatro ilhas do arquipélago Kuril, ocupadas desde o fim da Segunda Guerra Mundial por Moscou e reivindicadas por Tóquio.

As negociações sobre as quatro ilhas vulcânicas, chamadas Territórios do Norte pelo Japão, não avançaram nos últimos anos, apesar dos apelos de Shinzo Abe.

Em seu discurso no fórum de Vladivostok, antes da proposta de Putin, o chefe de Governo japonês defendeu uma solução para o tema.

“As relações entre Rússia e Japão avançam em um ritmo jamais visto (….) Resta apenas um obstáculo, que é nada menos que os dois países devem assinar um tratado de paz”, afirmou.

“Se não fizermos agora, então quando?”, questionou Abe.

“Ambos somos conscientes de que isto não será fácil. Mas temos um dever para com as gerações futuras”, acrescentou.

Abe afirmou que as ilhas poderiam servir como um “hub logístico”, virando um “símbolo de cooperação”, o que permitiria que o Mar do Japão se transformasse em uma rota de transporte de bens nos dois sentidos”.

Até hoje os dois países fizeram pequenos progressos na questão, com alguns compromissos para facilitar a visita de ex-moradores, ou projetos econômicos.

Na segunda-feira (10), Putin e Abe anunciaram a visita em outubro do comandante do Estado-Maior do Japão, Katsutoshi Kawano, e de empresários do país às Ilhas Kuril.