A Rússia negou nesta segunda-feira (27) que está em situação de inadimplência, embora tenha admitido que, devido às sanções internacionais, dois pagamentos não chegaram aos seus credores até o prazo limite, no domingo.

“O não recebimento do dinheiro pelos investidores não é resultado de um não pagamento, mas é causado pela ação de terceiros, algo que não é considerado diretamente […] inadimplência”, insistiu o ministério das Finanças em comunicado.

“As alegações sobre uma cessação do pagamento russo são absolutamente ilegítimas”, enfatizou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, referindo-se às informações divulgadas por agências de notícias financeiras, que indicaram que a Rússia incorreu em inadimplência.

Por causa das sanções ordenadas em resposta a sua ofensiva na Ucrânia, a Rússia não pode mais fazer transferências em moedas ocidentais para pagar os juros de sua dívida externa adquirida em dólares ou euros.

Em 20 de maio, a Rússia anunciou que pagou juros sobre duas dívidas, de 71,25 milhões de dólares e 26,5 milhões de euros, respectivamente, ou seja, sete dias antes da data prevista para evitar que essas transferências fossem bloqueadas devido às sanções, que entraram em vigor vigor cinco dias depois.

– “Piada” –

Mas as quantias não chegaram a ser transferidas para os credores, pois os intermediários bancários as bloquearam como resultado das sanções, destacou o ministério russo.

Desta forma, a Rússia encontra-se em situação de inadimplência desde domingo à noite, prazo para efetuar os reembolsos em questão.

É provável que Moscou deixe de efetuar todos os pagamentos relacionados a sua dívida externa programados para o restante do ano, no valor de centenas de milhões de dólares.

“Os sistemas internacionais de pagamentos e compensações obtiveram os fundos a tempo e na íntegra e tiveram os meios legais e financeiros para transferir os fundos em questão para os destinatários finais”, denunciou o ministério das Finanças russo.

Os dois pagamentos são os últimos que Moscou tentou efetuar em moedas estrangeiras. Desde o final de maio, a Rússia declarou que está pagando sua dívida adquirida em dólares ou euros em rublos, algo que também expõe o país a uma situação de inadimplência.

Na semana passada, o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, chamou a situação de “piada”.

“Não se trata de um calote do nosso país, mas sim do colapso artificial e deliberado do sistema internacional de pagamentos”, denunciou o vice-presidente da câmara alta do Parlamento, Konstantin Kosachev, em declarações à agência Ria Novosti.

O porta-voz do Kremlin alertou que o Ocidente não deve confiscar, sob o pretexto de calote, os quase US$ 300 bilhões em reservas financeiras russas que estão congeladas no exterior.

Estas reservas estão “congeladas de forma ilegítima e qualquer tentativa de utilizá-las será igualmente ilegítima, praticamente roubo”, sublinhou.

Desde que as três grandes agências internacionais de classificação financeira deixaram de trabalhar com a Rússia é uma organização que reúne grandes bancos internacionais (Credit Derivatives Determinations Committees) que avalia se a Rússia cumpre ou não os pagamentos aos seus credores.

Em 1998, quase dois anos antes de Vladimir Putin chegar ao Kremlin, a Rússia, prejudicada pelos efeitos da queda da União Soviética, da crise nas economias asiáticas e queda dos preços das commodities, viu-se em default de sua dívida nacional e forçada a impor uma moratória à sua dívida externa.

O país, cuja dívida pública em moedas estrangeiras atingia então 141 bilhões de dólares, teve que esperar doze anos para poder tomar empréstimos novamente nos mercados internacionais.

O calote anterior da Rússia remonta a 1918, quando Lenin decidiu não pagar as dívidas do regime czarista.