A Rússia espera recuperar sua influência perdida no mundo e restaurar a situação de “igualdade” com os Estados Unidos após a assinatura na próxima quinta-feira em Praga de um novo acordo de desarmamento nuclear START com seu ex-adversário da Guerra Fria, afirmam os analistas.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, afirmou nesta terça-feira que a assinatura do acordo pelos presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev reflete “o novo nível de confiança entre Moscou e Washington”.

Durante as negociações de vários meses que ocorreram em Genebra, os representantes russos insistiram a cada passo para que o princípio da igualdade russo-americana fosse reconhecido, afirmou à AFP Evgueni Volk, analista da Fundação Heritage nos Estados Unidos.

“Era um dos principais objetivos do Kremlim”, indicou o analista. “É um sucesso para eles ter conseguido que os americanos reconhecessem a Rússia como um sócio de mesmo nível”.

Os líderes políticos russos julgavam que os tratados assinados pelos dois países nos anos 1990 eram desfavoráveis a Moscou, incluindo o START, que expirou no dia 5 de dezembro de 2009.

Este acordo previa principalmente a presença permanente de inspetores americanos na fábrica russa de Votkinsk (580 km a leste de Moscou), onde são fabricadas armas estratégicas.

A presença dos inspetores irritava Moscou, que retirou em 2001 os seus de um local similar nos Estados Unidos. Mas a Rússia não conseguiu que os americanos partissem até o fim de 2009, horas antes do vencimento do START.>

O conselheiro diplomático do presidente russo, Sergei Prijodko, manifestou na sexta-feira a sua satisfação de que as inspeções americanas voltem apenas quando o novo acordo entrar em vigor. Já Lavrov indicou nesta terça-feira estar satisfeito pelo fim das medidas “discriminatórias”.

Outras autoridades russas afirmaram que o novo tratado terá várias preocupações relacionadas com o projeto de escudo antimísseis americano na Europa, um ponto sensível nas relações entre os dois países.

Moscou considera que o sistema poderá representar uma ameaça para sua força de dissuasão nuclear. Lavrov preveniu que Moscou reservará o direito de se retirar do novo tratado, caso o escudo restrinja o potencial estratégico russo.

“A Rússia terá o direito de sair do tratado START se o desenvolvimento quantitativo e qualitativo do potencial de defesa antimísseis dos Estados Unidos começar a pesar sobre a eficácia das forças nucleares estratégicas”, anunciou o ministro.

Moscou esperava impor limites na questão de defesa antimísseis, mas finalmente se contentou com um compromisso por parte de Washington de que reconhece a existência de um “vínculo” entre as armas nucleares “ofensivas” e os sistemas antimísseis.

Se o Kremlim se alegra com o reconhecimento do “vínculo”, os analistas afirmam que o novo tratado não impõe nenhum limite ao projeto antimísseis americano.

“Trata-se de uma grande derrota de propaganda para a Rússia, que insistiu na importância da defesa antimísseis”, escreveu na semana passada o analista Alexander Golts no jornal The Moscow Times.

A Rússia também não pôde obter concessões em outros temas, como uma maior redução do número de vetores nucleares. “Moscou cedeu praticamente em todas as exigências americanas”, acrescentou Golts.

Mas para Fiodor Lukianov, editor do jornal Russia in Global Affairs, Moscou soube se impor como sócio número um dos Estados Unidos em matéria nuclear, obtendo “um tratado baseado na igualdade total”.

“Desse ponto de vista, o novo tratado é indubitavelmente mais importante para a Rússia”, acrescentou.

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