A Rússia advertiu, nesta quarta-feira (19), as Nações Unidas para que não investigue os supostos ataques com drones de fabricação iraniana na Ucrânia, unindo-se a Teerã ao negar a origem das armas, enquanto a União Europeia (UE) prepara novas sanções.

Estados Unidos, França e Reino Unido – integrantes permanentes do Conselho de Segurança – solicitaram uma sessão do órgão decisório, realizada a portas fechadas, para expressar alarme pelos envios de drones, que, segundo funcionários ocidentais, violam uma resolução da ONU, embora a Rússia tenha poder de veto para bloquear um eventual pedido de novas sanções.

Tanto a UE como os Estados Unidos disseram ter provas de que o Irã forneceu os drones kamikazes Shahed-136, aos quais se atribuem as mortes de cinco pessoas na segunda-feira em Kiev, assim como a destruição de infraestruturas civis.

A Ucrânia, que decidiu romper suas relações diplomáticas com Teerã, afirma que seu exército derrubou mais de 220 drones iranianos em pouco mais de um mês, e surgiram imagens que parecem mostrar um vínculo desses equipamentos com o Irã.

No entanto, o diplomata russo Dmitry Poliansky denunciou as “acusações infundadas e as teorias conspiratórias”, citando como prova que a palavra russa para gerânios estava escrita nos drones.

“Os veículos aéreos não tripulados utilizados pelo exército russo na Ucrânia são fabricados na Rússia”, disse Poliansky aos jornalistas do lado de fora do Conselho de Segurança.

“Eu recomendaria a vocês que não subestimassem as capacidades tecnológicas da indústria russa de aviões não tripulados”, acrescentou.

Além disso, o diplomata russo advertiu contra qualquer investigação da ONU no terreno na Ucrânia como parte da aplicação das sanções existentes sobre o Irã.

“A equipe não tem o mandato de realizar investigações; não faz parte do comitê de sanções. Assim que isso seria absolutamente pouco profissional e político”, indicou.

Se a Secretaria Geral da ONU ou o secretário-geral António Guterres seguirem adiante, “teremos que reavaliar nossa colaboração com eles, o que não beneficia a ninguém”, prosseguiu Poliansky.

O enviado do Irã na ONU, Amir Saeid Iravani, também rechaçou as “afirmações infundadas e sem fundamento” sobre as transferências de drones e disse que Teerã, que se absteve nas votações sobre a guerra na Ucrânia, queria uma “resolução pacífica” da mesma.

As supostas transações de armas acontecem no momento em que o Irã enfrenta uma crescente pressão por sua repressão aos maiores protestos no país em anos, desencadeados pela morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos detida pela conhecida “polícia da moralidade” da república islâmica.

– Resposta ‘rápida e firme’ –

Espera-se que a UE aprove as sanções sobre os drones antes de uma cúpula do bloco nesta quinta-feira em Bruxelas.

Uma lista da qual a AFP teve acesso indica que o bloco planeja sanções contra altos funcionários militares, entre eles o general Mohammad Hossein Bagheri, chefe de pessoal das forças armadas do Irã.

Em Bruxelas, Nabila Massrali, porta-voz do alto representante de política externa da UE, Josep Borrell, disse que o bloco havia reunido “provas suficientes” que demonstram que os drones utilizados pela Rússia contra a Ucrânia foram proporcionados pelo Irã, e estava preparando sanções e “uma resposta clara, rápida e firme”.

As medidas punitivas também afetariam a fabricante de drones Shahed Aviation Industries, uma empresa aeroespacial vinculada à poderosa Guarda Revolucionária iraniana.

Os Estados Unidos, por sua vez, disseram que o Conselho de Segurança ouvirá um especialista sobre a transferência dos drones.

“Vimos no decorrer do último mês que há ampla evidência de que a Rússia está utilizando veículos aéreos não tripulados do Irã em ataques cruéis e deliberados contra o povo da Ucrânia”, disse aos jornalistas em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.

“Transmitiremos as graves preocupações sobre a aquisição de veículos aéreos não tripulados do Irã por parte da Rússia em clara violação da Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU”, acrescentou.

A resolução de 2015 deu luz verde para um acordo nuclear com o Irã, que agora está moribundo.

A proibição da resolução sobre a venda de armas convencionais do Irã expirou em 2020, apesar das tentativas reiteradas do governo americano do então presidente republicano Donald Trump para mantê-la em vigor.

Os Estados Unidos não explicaram como o Irã estaria violando a normativa, mas a resolução ainda proíbe, até outubro de 2023, qualquer transferência que possa beneficiar mísseis balísticos com capacidade nuclear, a menos que haja permissão do Conselho de Segurança.

A repressão aos protestos no Irã motivou novas sanções ocidentais por abusos dos direitos humanos e deixaram em segundo plano os esforços do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para restaurar o acordo nuclear de 2015, do qual Washington se retirou durante o governo de Trump.

Funcionários ocidentais afirmam que os drones iranianos são uma evidência de que a Rússia, historicamente um dos maiores exportadores de armas do mundo, viu seu arsenal diminuir bastante pelas perdas no campo de batalha.

Os Estados Unidos publicaram informação de inteligência que afirma que os drones iranianos falharam com frequência e que a Rússia também teria recorrido à Coreia do Norte. Segundo relatos, a China rejeitou pedidos para enviar armas.