A Rússia anunciou nesta segunda-feira (18) a suspensão de sua missão na Otan e a da Aliança Atlântica em Moscou, após a retirada em 6 de outubro do credenciamento de oito representantes russos na organização, acusados de espionagem.

Essa decisão ilustra ainda mais as fortes tensões entre Rússia e os países ocidentais há vários anos, entre sanções, expulsões trocadas de diplomatas, acusações de interferência eleitoral, espionagem e ciberataques atribuídos a Moscou.

A Rússia, por sua vez, repreende a Aliança Atlântica pela sua ambição de se estender até suas fronteiras, integrando Ucrânia e Geórgia, duas ex-repúblicas soviéticas que ainda considera parte de sua esfera de influência.

“Após certas medidas tomadas pela Otan, as condições básicas para um trabalho comum não existem mais”, disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, destacando que as medidas entrarão em vigor em 1º de novembro.

Concretamente, a Rússia suspenderá indefinidamente sua missão em Bruxelas no berço da aliança militar ocidental, assim como a missão da Otan na embaixada da Bélgica em Moscou. Esta última tem como objetivo garantir a relação entre a aliança em Bruxelas e o ministério da Defesa russo.

Lavrov também anunciou “acabar com a atividade do escritório de informação da Otan”, cuja missão, conforme definida pela aliança, é “melhorar o conhecimento e a compreensão mútuos”.

Desde 2014, com a anexação da península da Crimeia por parte da Rússia, “a Otan já reduziu consideravelmente os contatos com a nossa missão. No que diz respeito à parte militar, não houve nenhum contato desde então”, justificou o chefe da diplomacia russa.

“A atitude da Aliança com o nosso país se tornou cada vez mais agressiva”, denunciou a Rússia.

A Otan afirmou por sua vez que “soube das declarações do ministro Lavrov pela imprensa”. “Não temos nenhuma comunicação oficial sobre o assunto que provocou”, afirmou uma porta-voz da Aliança, Oana Lungescu.

– “Atividades maldosas” –

Em caso de “urgência”, a Aliança poderá, no futuro, contatar o embaixador russo na Bélgica, acrescentou Lavrov.

Essas medidas ocorrem após uma nova série de acusações de espionagem.

No início de outubro, a Otan anunciou que estava retirando o credenciamento de oito membros da missão russa em Bruxelas, acusados de serem “agentes da inteligência russa não declarados”.

O secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, acusou na ocasião Moscou de aumentar suas “atividades maldosas” na Europa.

A Rússia fez uma advertência ao considerar que a aliança político-militar, fundada em 1949 pelos rivais da União Soviética, já demonstrou sua rejeição em normalizar suas relações.

Em março de 2018, a aliança militar já havia decidido retirar as credenciais de sete membros da missão russa e expulsá-los da Bélgica, após o envenenamento de Serguei Skripal, um ex-agente russo, e de sua filha no Reino Unido.

Posteriormente, o número de credenciamentos para a missão russa em Bruxelas foi reduzido de 30 para 20. Em 7 de outubro de 2021, ainda mais, até restarem 10.

Apesar das fortes tensões, desde 2014 o alto comando militar russo se reuniu várias vezes em terceiros países com líderes militares da Otan e do Pentágono.

Em fevereiro de 2020, o chefe do Estado Maior russo, Valeri Guerasimov, se reuniu no Azerbaijão com o comandante supremo da Otan para a Europa, o general americano Tod Wolters.

Em setembro de 2021, Guerasimov teve um encontro em Helsinki com seu homólogo americano Mark Milley, após uma conversa anterior em dezembro de 2019.