O governo russo transferiu nesta segunda-feira (19) para um hospital o líder opositor encarcerado Alexei Navalny, enquanto em Bruxelas os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) iniciaram uma reunião por videoconferência que pretende discutir o aumento da tensão com a Rússia.

Navalny, que iniciou uma greve de fome há três semanas, foi transferido da prisão, a 100 quilômetros de Moscou, para um centro hospitalar de detentos nas proximidades.

“O estado de saúde de Navalny é considerado satisfatório atualmente”, afirmou o serviço penitenciário, antes de acrescentar que o líder opositor aceitou uma “terapia com vitaminas”.

Durante o fim de semana, amigos de Navalny afirmaram que ele estava praticamente à beira da morte.

Os chanceleres dos 27 países da UE iniciaram uma reunião por videoconferência que inicialmente estava destinada a discutir o agravamento das tensões com a Rússia na Ucrânia, mas a questão Navalny atropelou a agenda e virou o tema central.

Pouco antes do início do encontro virtual, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, responsabilizou diretamente “as autoridades da Rússia pela situação de saúde” de Navalny.

O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, rejeitou de forma enfática os comentários de autoridades ocidentais.

“Não podemos aceitar estas declarações por parte de representantes de outros governos”, declarou, antes de afirmar que o tema “não deve ter maior interesse para eles”.

– Aumento da pressão –

Navalny iniciou a greve de fome em 31 de março para protestar contra as más condições de sua detenção. Ele acusou a administração penitenciária de impedir o acesso de um médico e de remédios, apesar de sofrer uma dupla hérnia de disco, segundo os seus advogados.

Os médicos de Navalny afirmaram no domingo que foram impedidos de visitar o opositor do Kremlin.

Os aliados do opositor convocaram os russos para um protesto nas quarta-feira às 19H00 (13H00 de Brasília), que desejam transformar na “maior manifestação da história moderna” da Rússia.

O evento foi convocado para o mesmo dia do discurso do presidente Vladimir Putin diante das duas câmaras do Parlamento, quando ele pretende falar sobre os objetivos de desenvolvimento da Rússia e as eleições legislativas do segundo semestre.

“Putin proíbe explicitamente qualquer atividade da oposição na Rússia. Isto significa que esta concentração pode ser a última do país nos próximos anos. Mas nosso poder é mudar”, escreveu no Facebook um dos principais colaboradores de Navalny, Leonid Volkov.

Um site criado pela oposição há algumas semanas para que os russos que desejam protestar façam uma inscrição já registrava 460.000 pessoas no domingo.

O ministério do Interior da Rússia, no entanto, advertiu que não permitirá a “desestabilização” e que adotará “todas as medidas necessárias”.

Navalny, que retornou em janeiro ao país, depois de cinco meses de convalescença na Alemanha devido a um envenenamento que atribui ao Kremlin, foi detido imediatamente e condenado a dois anos e meio de prisão por uma antiga acusação de fraude, um processo que o opositor denuncia como politicamente motivado.

– Preocupação com a Ucrânia –

Os chanceleres da UE também discutirão a explosiva situação na Ucrânia. A decisão russa de aumentar suas tropas e organizar exercícios militares na fronteira provocou alertas em Bruxelas.

“A situação na fronteira é muito perigosa e pedimos à Rússia que retire suas tropas da fronteira com a Ucrânia”, disse Borrell.

A gravidade da situação chegou a tal ponto que o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, deve participar de parte da videoconferência.

A Ucrânia pediu à Otan que acelere a análise de seu pedido de adesão, como forma de enviar um “sinal” à Rússia, mas o processo não avançou.