A KPMG está se preparando para a dança de cadeiras entre as auditorias, anunciada para 2001. O rodízio de auditores, determinado em 1996 pelo Banco Central, prevê que bancos, corretoras, financeiras, companhias hipotecárias e administradores de recursos troquem a empresa que revê seus balanços a cada quatro anos, para desgosto da firma americana, líder desse segmento no Brasil. A norma vale apenas para as instituições financeiras ? o que, para a empresa, terá um efeito comparável ao que seria para a Petrobras a perda do monopólio da produção de petróleo. ?Esse rodízio só existe em cinco países. O mais expressivo é a Itália?, lamenta David Bunce, presidente da KPMG no Brasil. ?Nos Estados Unidos e na Inglaterra trocam-se as equipes, mas não as empresas?, informa. Para evitar o desastre que o rodízio poderia causar em seus negócios, a companhia, que faturou US$ 80 milhões no País este ano, preparou um Plano B.

A estratégia de emergência vinha sendo desenvolvida desde que se anunciou a obrigatoriedade do rodízio e tem como base a criação de novos serviços, que diminua a influência da auditoria em bancos nos balanços da empresa. Como terá de abandonar várias instituições com o rodízio, a KPMG quer compensar parte da perda auditando mais companhias não financeiras. Há uma década a KPMG tinha apenas meia dúzia de produtos, todos girando ao redor da auditoria externa. Agora, está oferecendo serviços como investigação de fraudes de funcionários dentro das empresas, seleção de executivos e due dilligence para aquisições. Também coordena reestruturações de companhias inteiras ? e, para isso, assume até a renegociação de dívidas com credores. Para bancos, monta operações de limpeza de carteiras de créditos podres, que são separados e vendidos no mercado. Aproveitando a onda da Internet, a empresa também lançou seu próprio selo de segurança virtual. Com essas novidades, cresceu 20% este ano ? e espera escapar do encolhimento no próximo balanço.

?PERIGO SÃO OS ESTADOS UNIDOS?

O inglês Brendan Nelson, chairman da área de bancos da KPMG global, veio ao Brasil para a Conferência Latino-Americana de Bancos, promovida por sua empresa. Depois, falou à DINHEIRO sobre o futuro do sistema financeiro nacional e a ameaça da Argentina:

DINHEIRO ? A concentração de bancos no Brasil vai se acirrar, depois da venda do Banespa?
BRENDAN NELSON ? Sem dúvida ela irá aumentar. Mas os bancos pequenos podem sobreviver se especializando cada vez mais. Quanto aos bancos de varejo, eles passarão por um processo de consolidação e concentração entre si. Acho pouco provável que sejam vendidos a estrangeiros. O cenário mais próximo aqui é o de fusões entre os grandes competidores nacionais.

DINHEIRO ? O número de instituições vai diminuir muito? Quantas restarão, no final?
NELSON ? Não há um número cabalístico. Há espaço para todos, desde que trabalhem bem. Cabem supermercados financeiros, os que oferecem todo tipo de produto e que, na minha opinião, são: Bradesco, Itaú, Unibanco, Banco do Brasil, ABN-Real e Santander. Os demais seriam instituições especializadas. O Safra e o Mercantil Finasa não estão no varejo. A Caixa Econômica Federal dá crédito, mas vive de um único produto, que é o crédito imobiliário. Há bancos extremamente focados, como os bancos de recebíveis, bancos de investimento, bancos de montadora…

DINHEIRO ? O sr. teme a crise na Argentina?
NELSON ? Sim, mas o que me preocupa é a aterrissagem da economia dos Estados Unidos. Ali qualquer solavanco teria o efeito de um maremoto. Em países como o Brasil, até mesmo as ondas fracas são ameaçadoras. Imagine o efeito de uma realmente forte.

DINHEIRO ? Em 1994 Bill Gates disse que os bancos tradicionais eram dinossauros que, extintos, seriam substituídos pelos bancos virtuais. O sr. concorda?
NELSON ? Bill Gates também disse que a Internet só serviria para mandar e receber e-mails… Hoje os bancos têm mais agências, estão mais fortes e seus lucros são os maiores da história. É uma ilusão acreditar que os bancos sobreviverão sem uma rede física de agências. Um banco tradicional não sobreviverá sem um braço virtual, assim como um banco virtual não poderá subsistir sem uma rede de atendimento de balcão.