O número de corpos recuperados de valas comuns durante o genocídio de 1994 em Ruanda já ultrapassou os 18 mil nos últimos cinco meses, confirmou hoje (19) a Federação de Associações de Sobreviventes Ibuka. Até agora, foram encontrados 18.529 corpos, informou Theogene Kabagambire, responsável da Ibuka.

O programa de busca em valas comuns e de exumações começou em 11 de abril, depois que um acusado de participar do genocídio revelou a localização das fossas. Durante esse período, foram descobertas 41 valas comuns na zona da capital, Kigali, distribuídas nos distritos de Rusororo e Gasabo.

“Na cidade de Kabeza, do setor de Rusororo, foram demolidas três casas depois das pistas recebidas. Encontramos 20 valas comuns sobre as quais as casas tinham sido construídas. Debaixo de uma, havia oito fossas, enquanto as outras estavam sobre sete e cinco, respectivamente”, revelou Kabagambire.

Segundo as informações recebidas, a Ibuka esperava encontrar entre 15 mil e 25 mil vítimas. “Todas as pessoas que nos deram informações sobre a existência das valas comuns tinham razão, menos uma”, apontou o dirigente da associação.

Se não for possível arrumar um local para a realização de um funeral decente aos mortos, a Ibuka planeja fazer na data que lembra o 25° aniversário do genocídio, no ano que vem.

A descoberta desses milhares de corpos, segundo a organização, é um “revés” para as iniciativas que buscavam unir os ruandeses, já que, apesar das fossas encontradas em zonas residenciais, as pessoas não revelaram essa informação por 24 anos.

Kigali e os bairros periféricos foram alguns dos palcos mais sangrentos do genocídio, pois destacaram-se como uma das últimas fortificações das milícias hutus antes que as forças da Frente Patriótica Ruandesa (RPA, em inglês) entrassem para libertar essas zonas.

O massacre de 1994 supôs o extermínio de 20% a 40% da população de Ruanda, então o país mais densamente habitado da África, com sete milhões de habitantes.

O 70% das vítimas mortais foram tutsis, assassinados por extremistas hutus após a morte do presidente ruandês Juvenal Habyarimana, quando o avião no qual viajava foi derrubado em 6 de abril de 1994 próximo ao Aeroporto de Kigali.

O assassinato de Habyarimana (da etnia hutu, majoritária em Ruanda), morto junto ao presidente de Burundi, Cyprien Ntaryamira, que o acompanhava, deu início ao massacre por hutus radicais e ainda hoje dia continua sendo um mistério.

* Com informações da Agência EFE.