A reforma da Previdência segue parada no ar, estacionada no limbo, à espera da boa vontade e do senso de dever dos senhores congressistas. É uma espera custosa. Pior que isso: representa um grau de instabilidade danoso a qualquer movimento da economia. O mercado reflete a inquietação. O adiamento das novas regras para aposentados só aumenta o fosso de desigualdades e de desarranjo no orçamento público. Empresários de várias vertentes começam a se mobilizar para pressionar os legisladores. Organizam caravanas. Questionam diretamente cada parlamentar sobre os motivos da hesitação. Falar em preocupação eleitoral no momento é, no mínimo, irresponsável. A reforma está na base do ciclo virtuoso que se prenuncia no horizonte. Do contrário, sem ela, o retrocesso financeiro será gigantesco. Com resultados catastróficos em todas as áreas.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu em entrevista que a âncora de garantia da solvência do País está sustentada nesse projeto. Não é exagero. Os gastos com aposentadorias, todos sabem, já ultrapassaram qualquer limite razoável. Corroem mais da metade da verba do Estado para investimentos. Analistas são unânimes em apontar que o debate sobre mudanças no sistema está atrasado ao menos duas décadas. E que não há mais tempo a perder.

O modelo em vigor hoje vem efetivamente transferindo renda dos pobres para os ricos. Os maiores beneficiados estão no topo da cadeia: servidores públicos em geral, os próprios parlamentares, militares e demais categorias tratadas com uma distinção de pensões imorais. É fundamentalmente com isso que se espera acabar a partir do projeto do Governo. A proposta já foi brutalmente cortada em sua essência. Hoje a luta é por ao menos parte dos avanços contidos no texto original. Alguma coisa é melhor que nada, pregam os idealizadores. Empurrar o assunto com a barriga é a mesma coisa que jogar sujeira para debaixo do tapete. Uma hora não dará para esconder mais. O Ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, é outro que faz coro aos alertas quanto à ameaça embutida nos seguidos adiamentos da votação da pauta. Segundo ele, o cenário já está em situação de extremo risco. O ajuste fiscal de 2018, por exemplo, poderá ficar seriamente comprometido se a votação da previdência não andar. Na prática, ninguém conta com essa possibilidade. Diante da evidente falência do quadro em vigor, é razoável se esperar que deputados e senadores tirem da frente o assunto para depois não serem acusados como responsáveis pelo caos. Na reta final das negociações, as conveniências estão pesando, mas o bom-senso deve prevalecer. Assim esperam os brasileiros.