No início do século XIX a Inglaterra assistiu a explosão do movimento operário contra o avanço da Revolução Industrial. Batizado de Ludismo, trazia como bandeira uma oposição à mecanização e à chegada das novas tecnologias, que eram vistas como exterminadoras implacáveis de empregos em substituição a mão de obra humana. Estes trabalhadores ficaram conhecidos como os “quebradores de máquinas” e lideraram greves em diversos setores impactados pela automação nas linhas de produção em detrimento ao trabalho artesanal.

A história sempre se repete. Se você se considera um ludita e também acredita que a nova onda de inovação da 4a Revolução, a digital, irá eliminar milhões de postos de trabalho, recomendo rever seus conceitos. Não adianta tentar parar as máquinas. Os robôs, cada vez mais capacitados pelo acelerado desenvolvimento da Inteligência Artificial, da computação em nuvem e da Internet das Coisas, já estão entre nós. E vieram pra ficar.

Mas serão os robôs os arqui-inimigos do Século XXI? Sistemas sustentados por algoritmos cada vez mais evoluídos serão os algozes que elevarão as taxas de desemprego?

Nos últimos 200 anos, tudo indica que não é a tecnologia a principal responsável pela eliminação de postos de trabalho, mas sim políticas macroeconômicas mal elaboradas que insistem em criar e manter uma distância abissal entre as classes sociais criando grupos mais vulneráveis à robotização.

Quem imaginava, há 15, 20 anos, quando a Internet começou a se popularizar, que hoje uma das principais demandas nas empresas seria por profissionais em áreas como programação, analistas de dados, especialistas em mídia social, marketing digital, mobile ou e-commerce?

Todas estas, e mais algumas, são profissões que germinaram com o desenrolar da revolução digital, que, agora, começa em ritmo frenético a ingressar em uma nova era – a da algoritmização da economia.

Na última década a taxa de desemprego mundial vem se mantendo, segundo dados do Banco Mundial, em torno de 8,5% (no Brasil, 11,5%), auferida em 2016. Entre os que estão na faixa de 15 a 24 anos, o índice mais do que dobra e chegou a 18,3% no mundo no ano passado (no Brasil, 24,6%). (1)

A falta de vagas é praticamente a mesma nos últimos 10 anos, apesar das intensas mudanças tecnológicas e invenções como os drones, o bitcoin, a Internet das Coisas, os carros autônomos, a robótica e tantas outras inovações.

Em um relatório intitulado “Toward Solutions for Youth Employment” (Rumo a Soluções para o Emprego de Jovens) divulgado em 2015 em parceria com a Organização Internacional do Trabalho e outras instituições, o Banco Mundial estima que o mundo precisará gerar 600 milhões de empregos até 2025 para evitar um cenário catastrófico, especialmente entre os jovens.

E é justamente com nossas crianças e jovens que mais devemos nos preocupar. Afinal, são eles que irão ingressar no mercado nas próximas décadas e precisarão estar aptos para trabalhar em profissões que ainda não foram nem mesmo inventadas, como já bem pontuou o futurista Ray Kurzweil, engenheiro chefe do Google. Muitas irão desaparecer e ser assumidas pela Inteligência Artificial, mas, em contrapartida, muitas outras serão criadas justamente para lidar com a nova realidade das máquinas cada vez mais desenvolvidas.

Aqui cabe uma reflexão: nossas escolas estão preparando as futuras gerações para esta revolução digital? Será que o conceito de grade curricular continua sendo a melhor forma de preparar os estudantes para este futuro que já é presente? A própria palavra grade já define um modelo em que aluno fica preso e obrigado a estudar conteúdos que não foram escolhidos por ele, o que parece não ser a melhor receita para se preparar para uma carreira que será cada vez menos linear.

O mundo já não é mais o mesmo e as escolas precisam se reinventar para preparar profissionais em um mundo habitado por novas inteligências que irão trabalhar lado a lado com o cérebro humano. Quem tem medo dos filmes de ficção científica ou de séries como Black Mirror, da Netflix, terão que abrir suas mentes para este novo universo.

Cientistas de todo mundo se apressam em pesquisar não só como levar a Inteligência Artificial a um nível próximo da Inteligência Humana, mas já estão muito perto de uma integração entre as máquinas e o homem através de implantes cerebrais.

Isso mesmo que você leu. Theodore Berger, engenheiro biomédico da Universidade do Sul da Califórnia, apresentou recentemente suas descobertas em “próteses de memória” que irão abrir mais espaço no “nosso HD”. Como no filme Matrix, cientistas também da Califórnia, do HRL Laboratories, estão dando os primeiros passos para fazer “upload de conhecimento” no cérebro humano

Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, também não quer apenas dominar o mercado de carros elétricos e nos levar para outros planetas. Com a Neuralink, pretende em breve nos fundir com a Inteligência Artificial através de chips que, uma vez conectados ao cérebro, irão permitir incrementar nossa memória e estabelecer interfaces diretas com os computadores.

Aliás, Musk está em busca de engenheiros para trabalhar no projeto em San Francisco. Caso reúna os requisitos necessários, candidate-se pelo site da empresa. Curiosamente, o CEO da Neurolink é um dos que tem profetizado um mundo ameaçado pela Inteligência Artificial, o que rendeu um comentário irônico da robô Sophia em entrevista para CNBC sobre o futuro da Inteligência Artificial durante evento do Future Investment Institute, realizado na Arábia Saudita em outubro passado.

Robô
Fonte: CNBC

 

 

Se a ficção está virando realidade, então passou a hora das escolas repensarem, e rápido, seus modelos educacionais. Será que nossas escolas e universidades já estão preparando os futuros profissionais para serem gerentes de robôs ou pilotos de drones? Como formar estudantes para profissões inimagináveis há poucos anos?

Um estudo da Accenture PLC realizado com 1 mil empresas que já estão utilizando ou testando Inteligência Artificial concluiu que várias novas profissões, totalmente sem precedentes, serão criadas justamente para garantir que estas novas tecnologias inteligentes irão desempenhar suas atribuições de forma eficaz e, acima de tudo, responsável.

Serão profissionais que irão treinar os sistemas inteligentes, ajudar no entendimento da tecnologia disruptiva aos que não têm familiaridade com suas habilidades e potenciais, além de vigilantes que terão a grande responsabilidade de evitar que as máquinas ganhem “vida própria” e saiam por aí fazendo bobagens e atentando contra a humanidade, como os humanoides de Blade Runner ou os mutantes de X-Men.

No “Human Capital Report – Preparing People for the Future of Work”, o The World Economic Forum acende o sinal de alerta: os sistemas educacionais de hoje ainda estão desconectados das habilidades que precisam ser desenvolvidas para as demandas do mercado de trabalho. O relatório indica que o foco primário das escolas está nas habilidades cognitivas e não em soluções de problemas, criatividade e colaboração, bem mais importantes às novas gerações que estarão se formando nos próximos anos.

Isto sim é preocupante.

A consultoria Paysa indica em estudo que o mercado irá precisar de milhares de profissionais capacitados para criar programas de Inteligência Artificial que irão, entre outras tarefas, dirigir carros autônomos, realizar análises financeiras ou atender clientes (se você atua em uma destas profissões sugiro repensar rápido sua carreira).

 

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Fonte: Paysa

De acordo com o levantamento, somente este ano as empresas americanas irão investir mais de US$ 650 milhões em salários para 10 mil profissionais que irão trabalhar nesta área. A Amazon, não causa espanto, lidera o ranking com quase 1/3 deste total, reservando US$ 227,8 milhões.

Jogar robôs no triturador ou convocar greves, como fizeram os luditas, não vai garantir seu futuro ou do seu filho. Tornar-se um autodidata e aprender a utilizar a Inteligência Artificial como uma aliada provavelmente será a nova diretriz profissional para as próximas décadas.

Se a escola dele ensina matemática apenas para fazer contas para passar de ano, é melhor exigir que o prepare para ser um gestor financeiro e não quebrar usando o cartão de crédito. Se ele aprende análise sintática, mas não desenvolveu a comunicação interpessoal, sua carreira profissional também poderá sofrer pra deslanchar.

E isso vale pra você também, que já deixou a universidade há algum tempo. Não custa lembrar: tudo aquilo que puder ser substituído por automação certamente será. É questão de (pouco) tempo. Por isso, o melhor é retomar rapidamente seus estudos, o que não significa que precisa voltar pra escola. O que não falta é conteúdo sobre seja lá o que quiser aprender e bons mentores disponíveis para te ajudar virtualmente. Os vídeos do TED, por exemplo, são excelentes fontes de conhecimento.

Se você está preocupado com seu futuro, sugiro consultar neste site “Will Robots Take my Job?” o quanto sua profissão está sob ameaça de ser ocupada por um robô. Dependendo do resultado, corra para dar uma guinada na sua vida.

 

(1) É possível fazer várias pesquisas no site do Banco Mundial sobre taxas de desemprego e vários outros índices.

(*) Omarson Costa é formado em Análise de Sistemas e Marketing,
tem MBA e especialização em Direito em Telecomunicações. Em sua carreira,
registra passagens em empresas de telecom, meios de pagamento e Internet.