O anúncio do Google não mexeu apenas com a comunidade científica. Rival da gigante americana na pesquisa de computadores quânticos, a IBM contestou que o Google tenha atingido a supremacia quântica, antes mesmos da publicação do feito na ‘Nature’. Com base no artigo vazado em setembro, a empresa publicou a refutação em seu blog na noite de segunda-feira. Isso porque a companhia disse ter um modelo para seu supercomputador clássico, o Summit, que solucionaria em dois dias e meio o problema do gerador de números aleatórios.

A crítica principal é a de que o modelo do Google para estimar o cálculo de 10 mil anos numa máquina clássica é exagerado – se comprovado, isso derrubaria a tese de que o Google alcançou a supremacia quântica.

John Martinis, um dos líderes da pesquisa no Google, disse nesta quarta-feira, 23, a jornalistas que já esperava que fossem apresentados novos modelos de computação clássica – e que esses desafios são bem-vindos. A lógica é a de que modelos quânticos estão na fronteira da tecnologia e os cientistas não sabem seus limites. O mesmo vale para modelos clássicos avançados. Assim, o debate sobre supremacia quântica funciona como um alvo móvel: quando cientistas pensam ter esgotado modelos clássicos, um novo pode surgir.

“Mesmo que a IBM esteja certa, isso não diminui o feito do Google. É muito difícil provar que se tem a melhor estratégia clássica”, explica Bárbara Amaral, pesquisadora da USP. “Mesmo mais eficiente, a estratégia da IBM ainda demanda recursos clássicos que crescem exponencialmente com o número de qubits”, diz.

Entre especialistas, estima-se que um computador de 70 qubits faria cálculos que levariam 270 mil anos para ser feitos por uma máquina clássica. “Esses anúncios e questionamentos estão ocorrendo também num ambiente comercial”, ressalta Ivan Oliveira, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisa Física (CBPF).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.