No xadrez, o rei é a peça mais importante do jogo. Uma vez derrubado, o jogo acaba. No xadrez dos investimentos, o dólar é Rei, uma referência para a economia global. Se o rei cair, arrasta o mundo junto. Seja para turismo ou para investimentos, o dólar é cobiçado por brasileiros. E assim deve continuar em 2023, ao menos para as finanças, nos chamados investimentos dolarizados.

Com a combinação de real desvalorizado, instabilidade política e risco de recessão nas economias desenvolvidas, as aplicações atreladas a moedas estrangeiras, especialmente ao dólar, viraram opções até mais atraentes do que os passeios na Disney. A prioridade é rentabilidade? Não. A imensa maioria, segundo especialistas consultados pela DINHEIRO, está em busca de segurança. Ao colocar parte dos ovos em cestas estrangeiras, os investidores blindam uma fatia de suas reservas com a solidez de economias maduras, empresas sólidas e moeda de baixa volatilidade.

Desde a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no final de 2019 para o aporte de pessoas físicas no exterior, o número de investidores em Brazilian Depositary Receipts (BDRs) ou recibos de ativos estrangeiros negociados no Brasil saltou para 121 mil em 2020, 306 mil em 2021 e alcançou 365,3 mil CPFs em dezembro de 2022, de acordo com o último boletim de BDRs da B3.

Além das BDRs, no segundo semestre, com a vitória de Lula sobre Bolsonaro nas eleições, o interesse por investimentos dolarizados cresceu exponencialmente, de acordo com Renan Hamilko, CEO da corretora Allez Invest, de Curitiba, uma das maiores credenciadas da XP na região Sul. “O aumento das incertezas sobre os rumos da economia com Lula motivou muitas empresas e investidores a buscar segurança lá fora”, disse. “Ao fazer isso, reduz a exposição aos riscos internos.”

Em novembro do ano passado, apenas a Allez Invest enviou para o exterior, em um único mês, mais do que havia feito nos últimos três anos e meio. Renda fixa, BDRs, títulos do Tesouro americano, fundos, ETFs, ações de gigantes da tecnologia e papéis de empresas com grau de investimento receberam mais de R$ 35 milhões de empresas e pessoas físicas, em remessas de R$ 500 mil a R$ 14 milhões. “Embora nossa recomendação seja ter 10% a 15% do portfólio em ativos dolarizados, houve cliente nosso que decidiu mandar 100% para o exterior”, afirmou Hamilko.

A alta de juros promovida nos últimos meses pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed), para conter a inflação histórica nos Estados Unidos, tornou os títulos do Tesouro mais rentáveis e puxou para cima o retorno da renda fixa no mercado americano (na melhor das hipóteses entre 4% e 6% ao ano), mas ainda menos da metade de alguns títulos brasileiros. Por isso, na avaliação do economista Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, as aplicações dolarizadas precisam ser avaliadas com maior cautela por quem busca opções lá fora. “Ainda há dúvidas sobre o rumo dos juros americanos e com qual será a gravidade da recessão”, afirmou Costa. “Por isso, não indico investimento de longo prazo no exterior, já que a curva dos títulos pós-fixados pode acarretar em perdas em comparação com as taxas de retorno no Brasil.”

CRIPTOS No pacote de opções de investimentos dolarizados estão as criptomoedas. As amadas e odiadas moedas digitais, que tiraram o sono de muitos investidores no ano passado (a principal delas, o bitcoin, se desvalorizou 58% em 2022), podem recuperar o brilho neste ano, segundo Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move. Para ele, criptoativos são a melhor opção para quem busca valorização. “Apesar da queda no ano passado, elas continuam sendo excelentes opções para a diversificação de portfólio”, disse Lago. “Quando analisamos um horizonte de três ou quatro anos, esse potencial de alta fica ainda mais positivo.” Ao mesmo tempo, os criptoativos seguem com alta volatilidade e é somente indicados para investidores de perfil mais agressivo, que aguentam o sobe e desce constante das cotações e eventuais perdas derivadas de possíveis casos de fraude, lavagem de dinheiro e má administração de recursos dos aplicadores. Os investimentos dolarizados têm conquistado mais adeptos, à medida que ruídos políticos contaminam o ambiente econômico.

Na avaliação de Lago, as falas contraditórias de Lula (que critica a independência do Banco Central e ataca o teto de gastos) transforma o investimento fora daqui em porto seguro para os brasileiros. “Com investimentos em dólar no exterior, o capital estará mais protegido e livre dos riscos de ser capturado por crises brasileiras”, afirmou Lago. Ou seja, diversificar uma parte do patrimônio e buscar segurança em solo estrangeiro pode ser uma alternativa para reduzir riscos do mercado local na composição da carteira.

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