O dólar teve novo dia de volatilidade, mas nesta terça-feira, 10, com oscilações um pouco mais contidas que ontem. A moeda americana vem recuperando no exterior parte das perdas pós-vitória de Joe Biden e, com isso, se fortalece ante divisas emergentes. No Brasil, os profissionais das mesas de câmbio comentam que o risco fiscal é um limitador importante para uma valorização mais firme do real.

Nesse ambiente, novas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre avanço das reformas e privatizações agradaram, mas o dólar foi as máximas do dia, R$ 5,41, quando ele alertou para o risco da volta rápida da hiperinflação caso não se resolva o problema da dívida interna, classificada como “explosiva” pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que vê chance de o dólar ir a R$ 7,00. No fechamento, o dólar à vista encerrou perto da estabilidade (+0,02%), cotado em R$ 5,3930.

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No final da tarde, com o mercado à vista já fechado, declarações de Jair Bolsonaro sobre o auxílio emergencial causaram desconforto, quando questionou como ficam os 40 milhões de “invisíveis” que perderam tudo, com o fim destas medidas, o que sinaliza sua intenção de continuar com elas. No mercado futuro, o dólar para liquidação em dezembro, que operava praticamente estável passou a subir, renovando as máximas do dia e fechou com alta de 0,55%, em R$ 5,4200.

O economista da JF Trust Gestão de Recursos, Eduardo Velho, observa que a questão fiscal impõe limite de melhora aos ativos brasileiros. Neste ambiente de incerteza fiscal, que só tende a ficar mais claro após as eleições municipais, o dólar deveria convergir mais para os R$ 5,50 do que para os R$ 5,00 ou abaixo. Ontem, no piso, caiu a R$ 5,22, o que rapidamente atraiu compradores. A JF não espera votações de projetos fiscais este mês. Ao mesmo tempo, persistem as dúvidas sobre como o governo vai financiar seu novo programa social, ressalta Velho. Guedes disse hoje que um novo programa de renda é uma promessa de campanha de Bolsonaro e afirmou ainda que se sente “bastante frustrado” de até agora não ter conseguido privatizar nenhuma empresa.

Na abertura do Bradesco Day, o economista-chefe do banco, Fernando Honorato Barbosa, ressaltou que a piora fiscal brasileira fez o real se descolar de outras moedas emergentes e a curva de juros a termo ficar mais inclinada, com as taxas longas projetando juros perto de 10% no Brasil. “Se formos capazes de avançar na agenda mínima de reformas, esses riscos se reduzem”, disse ele, citando medidas como a PEC Emergencial, o Pacto Federativo e a manutenção do teto de gastos. “A divida é manejável, temos condições de conduzi-la para patamares menores.”