Os candidatos a prefeito do Rio de Janeiro – Marcelo Crivella (Republicanos), que é o atual prefeito e busca a reeleição, e Eduardo Paes (DEM), que governou o município de 2009 a 2016 – trocaram intensas acusações durante o debate realizado pela TV Bandeirantes na noite desta quinta-feira, 19. Paes chamou Crivella de “pai da mentira” e o comparou ao governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), alvo de um processo de impeachment. Crivella disse que Paes não gosta de mulher e referiu-se ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB) como “pai” de Paes. Em meio às acusações, sobrou pouco tempo para propostas de governo.

Crivella está em larga desvantagem na corrida eleitoral (se a eleição fosse hoje, Paes venceria por 54% a 21% dos votos, segundo o Instituto Datafolha, e por 53% a 23% segundo o Ibope) e precisa tentar desconstruir o adversário. Paes pode se concentrar na exposição de propostas, mas tratou de se defender das acusações, que frequentemente classificou como mentiras. O atual prefeito acusou Paes de envolvimento com casos de corrupção registrados durante as obras para a Olimpíada e disse que seu antecessor deixou dívidas que dificultaram sua administração. O candidato do DEM se defendeu e acusou Crivella de abandonar a cidade e também de se envolver com corrupção.

Ao debater o combate à covid-19, Crivella admitiu que uma segunda onda da pandemia se aproxima e afirmou ser a pessoa certa para enfrentá-la por já ter adquirido experiência durante os meses de combate à pandemia. “Se fosse uma Olimpíada (que o Rio tivesse de vivenciar), poderíamos colocar o Eduardo”, disse, ironicamente, referindo-se à experiência do ex-prefeito de gerenciar a cidade durante o evento esportivo. “Mas é uma pandemia e nisso quem já tem experiência sou eu.” Enquanto cientistas e médicos alertam para uma nova fase de crescimento dos casos de covid-19, o principal apoiador de Crivella, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nega essa situação.

Em outro momento, Paes comparou Crivella a Witzel: “Fazendo esse debate com você, eu me lembro muito do meu adversário na última eleição, o ex-juiz Wilson Witzel. Ele fazia igualzinho: o tempo todo me acusava, e olha como ele terminou. Eu não desejo pra você não, mas fico só imaginando, depois dessa acusação de formação de quadrilha, de QG da Propina, Guardiões do Crivella. Acho que você vai terminar parecido com o Witzel, lamentavelmente”.

A troca de acusações foi para o campo pessoal quando Crivella relembrou um episódio em que o então prefeito Paes, ao entregar a chave de uma casa popular a uma mulher, recomendou que ela fizesse muito sexo naquele imóvel e chegou a citar uma posição sexual. “Um dos momentos mais melancólicos da sua administração foi quando você falou aquele monte de besteiras. Eu pensei que o Eduardo ia transformar em política pública o canguru perneta, achei que ia lançar o programa Canguru Perneta. Eu não tenho junto comigo pessoas que batem na mulher. Eu quero que você assuma o compromisso de o Pedro Paulo não voltar. O Pedro Paulo deu uma surra na esposa dele, não me traga ele de volta. Respeito à mulher é uma coisa que o Eduardo não pratica. O Eduardo não gosta de mulher”, criticou Crivella, referindo-se também ao deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), que em 2016 concorreu à prefeitura com o apoio de Paes e antes havia sido alvo de uma investigação por agressão à mulher. Paes disse que seu aliado foi inocentado e pode processar Crivella pela acusação.

Crivella também acusou Paes de fazer acordo publicitário com a TV Globo, para se beneficiar enquanto era prefeito, e então o candidato do DEM ressaltou que o atual prefeito é sobrinho de Edir Macedo, dono da TV Record: “Ele tem um titio que é dono de televisão e acha que todo mundo tem alguma coisa a ver com canal de televisão. Eu não tenho televisão nenhuma”.