Nos próximos meses, o consumidor brasileiro será ainda mais bombardeado com propaganda sobre as maravilhas das novas tecnologias da telefonia móvel. A guerra, aliás, que vem sendo travada nos bastidores há um bom tempo torna-se cada vez mais pública. Foi forte a pressão de operadoras e fabricantes europeus para que a Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel) escolhesse o padrão GSM como a freqüência a ser utilizada nas bandas C, D e E. Com a vitória da Telecom Italia Mobile (TIM) e Telamar como operadoras da banda D, o jogo de sedução se estendeu aos formadores de opinião. A glamurosa cidade de Cannes, na Riviera Francesa, por exemplo, abrigou o terceiro congresso de GSM, que teve a presença de todos os fabricantes e operadores de telefonia, além de centenas de fornecedores de outros serviços e jornalistas de todas as partes do mundo. Ao mesmo tempo, próximo dali, a Portugal Telecom fazia também seu lobby tecnológico, promovendo encontro para falar das vantagens do padrão CDMA.

No Brasil, por enquanto, a disputa pelo mercado de telefones celulares vem sendo travada entre duas operadoras em cada região do País, como é o caso da Telesp Celular e BCP, em São Paulo, e da Telefonica Celular e ATL, no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Todas utilizam os padrões CDMA e TDMA, caso da BCP. As novas operadoras, assim como as que vierem a ganhar as futuras concorrências para as bandas C e E, terão que usar o sistema GSM. Cada operadora garante que o seu sistema é o melhor e oferece mais alternativas para alcançar a terceira geração, a 3G, na qual os celulares irão transmitir voz e imagem, oferecer acesso à Internet, receber filmes, vídeos, fotos, fazer teleconferências e ser muito mais que um microcomputador.

?A tecnologia CDMA é a que permite a evolução natural para a terceira geração, o que não é possível com o GPRS?, declara Iriarte Esteves, presidente-executivo da Portugal Telecom, referindo ao sistema posterior ao GSM. Esteves cita o exemplo do Japão, onde as operadoras utilizam o W-CDMA ? o W significa Wideband, ou banda larga. Na terra do sol nascente a nova febre entre os jovens é o celular que manda e recebe e-mails, fotos e música. Ele se esquece, porém, que Portugal, assim como todos os outros países da Europa, utiliza o padrão GSM e está sendo o primeiro a utilizar o GPRS.

A Alcatel, empresa que fabrica de aparelhos celulares a satélites, vem gastando cerca de US$ 500 mil para desenvolver e lançar o GPRS na França ainda este ano. Para Michel Rahier, presidente da divisão de comunicação móvel da empresa, não existe dúvida da evolução natural do sistema. Depois do GPRS virá o Edge e, por fim, o UMTS, que, segundo ele, deverá permitir a comunicação entre todos os celulares do mundo. A Alcatel, por exemplo, é fornecedora de estações rádio-base, mesas de operação e outros componentes para a Telecom Italia Mobile (TIM), na Alemanha, e da Telemar, no Brasil. As duas foram as operadoras que ganharam as concessões da banda D. Rahier garante que até o final deste ano também estará vendendo seus aparelhos no Brasil.

O americano Scott Erickson, vice-presidente de marketing da Lucent, fornecedora dos equipamentos da Telesp Celular, garante que CDMA e GSM têm capacidade semelhante. Segundo Erickson, os problemas só serão sentidos pelo usuário que tiver um celular com padrão CDMA que viajar constantemente para a Europa. ?Ele poderá ter dificuldade para falar com aparelhos GSM?, afirma o executivo, que garante também estar em negociação com a TIM e a Telemar para o fornecimento de equipamentos.

O português Nuno Santos, técnico da empresa de software Case, que presta serviços para a Portugal Telecom, diz que a principal vantagem do GSM é a dificuldade de clonagem dos aparelhos. ?No caso do Brasil, onde se roubam muitos aparelhos, isso pode ser diferença importante?, ironiza, demonstrando conhecer um pouco do que se passa no Brasil.

Recentemente os adeptos do GSM contabilizaram duas importantes vitórias: as gigantes Cingular Wireless e AT&T, segunda e terceira maiores operadoras dos Estados Unidos, anunciaram a mudança do padrão TDMA para o GSM.

Apesar de presidir a Associação do GSM, o norte-americano Rob Conway prefere minimizar a guerra da sopa de letras. ?Ao consumidor não interessa quem está por trás da tecnologia do serviço. Ele quer apenas telefonar sem problemas?, resume com bom senso o executivo que durante muito anos trabalhou na Motorola. Ele deveria apenas acrescentar que ao consumidor interessam tarifas mais baratas, o que todos torcem para que aconteça com o acirramento da concorrência.