O estilista Ricardo Almeida já foi conselheiro de Santo Versace, o controlador do império italiano Versace, quando ele pensava em abrir a primeira loja por aqui. Isso no início dos anos 90. Mais de dez anos depois, Almeida ganha a vida aconselhando os poderosos. Mas não em negócios. ?Só opino se o assunto é guarda-roupa?, brinca o alfaiate. A começar pelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sob os holofotes da política, e com uma lista de clientes que vão do senador Eduardo Suplicy ao ministro Jaques Wagner, Ricardo Almeida pensa em ter um representante em Brasília, para ficar mais próximo dos que quiserem seguir o exemplo dos petistas. Outros quatro pontos de venda deverão ser abertos pelo Brasil ? um deles de preferência no Rio de Janeiro, para evitar que as celebridades, como galãs globais, tenham de ir a São Paulo para provar um legítimo corte Ricardo Almeida. Hoje, ele tem duas lojas próprias em São Paulo e seus ternos, camisas e sapatos estão à venda em mais oito lojas multimarcas. Quem preferir, pode marcar um horário para ser recebido pelo próprio estilista. Do encontro, o cliente sai não só com um traje novo. Ganha todas as dicas sobre acessórios e cores que mais combinam com ele.

Mas, atenção, quem demorar muito para marcar um horário pode ficar sem vez. Afinal, a última celebridade a usar uma criação da grife foi a supermodelo Gisele Bündchen. Vestindo um macacão risca-de-giz, a top roubou a cena da última São Paulo Fashion Week, maior evento de moda nacional. As imagens de seus cinco minutos pela passarela rodaram o mundo. E melhor: Almeida nem colocou a mão no bolso pela campanha de marketing. O cachê de US$ 150 mil da modelo foi pago pela Telesp Celular, patrocinadora do evento. ?Simplesmente me perguntaram se queria ter Gisele em meu desfile. Aceitei, é claro?, afirma Almeida. A presença da top model coroou a bem-sucedida carreira do estilista. De vendedor de camisas nos anos 70, ele se tornou um dos mais reconhecidos estilistas do País. Antes de se aventurar por um negócio próprio, foi sócio de uma confecção. Mas a produção em larga escala não era sua praia. ?Sempre achei que o futuro da moda estava em peças de qualidade e não em grandes quantidades?, explica Almeida. Partiu, então, para carreira solo. E apostou todas as fichas em ternos de acabamento impecável e na publicidade natural que ocorria depois de cada desfile da São Paulo Fashion Week. Deu certo. Hoje, ele é a estrela de um mercado que movimenta R$ 10 bilhões no Brasil, pelos dados da Abit.

Conhecido como o Armani brasileiro por seus colegas, Almeida é descrito como um estilista clássico, mas nem por isso óbvio. Sua grande arma é a inovação: em cores, tecidos e até formato de golas e bolsos. ?Gosto da criação minuciosa de cada peça?, explica o estilista. Ele participa de todos os processos de produção, do desenho à costura. E ainda arruma tempo para visitar diariamente sua fábrica, um galpão com 50 funcionários na zona sul de São Paulo. Parece um alfaiate de antigamente. O resultado? Só elogios. A estilista Nazareth Amaral, por exemplo, adora. ?O terno se ajusta perfeitamente ao corpo de qualquer homem?, afirma ela. ?É muito confortável.? Isso talvez explique a quantidade de jovens em seu ateliê. ?Minhas criações eram ligadas a personalidades mais arrojadas, como do Supla ou do João Paulo Diniz?, conta Almeida.

Agora, os modernos terão de disputar com os poderosos um dos 1 mil ternos que o estilista confecciona por ano. Pouco? Não quando cada um deles custa pelo menos R$ 2,5 mil. O faturamento final, que inclui a venda de camisas, da linha de roupa esporte, de sapatos e outros acessórios, ele não revela. As roupas são disputadas por nomes como Abílio Diniz, Gugu Liberato e o galã Thiago Lacerda. Nesse seleto clube do Bolinha, só mesmo Gisele Bündchen tem vez. E nem adianta as meninas chorarem por um modelo igual ao dela: ?Não pretendo desenhar roupas femininas. Continuo produzindo apenas para homens. Um mercado que ainda pode crescer bastante?, garante.