O reverendo Al Sharpton, que pronunciará uma das elegias nesta quinta-feira no funeral de George Floyd em Minneapolis, é um incansável, mas controverso, lutador pelos direitos civis nos Estados Unidos, que esteve na vanguarda dos confrontos raciais mais explosivos do país no último meio século.

Defensores elogiam o reverendo batista de 65 anos por seu ativismo contra o racismo, mas seus críticos o lembram como um provocador divisivo.

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Midiático na melhor das hipóteses, hoje em dia elegantemente vestido, Sharpton se acalmou com os anos e adotou um estilo mais contido e reflexivo.

Nascido em 3 de outubro de 1954 no Brooklyn – onde outro funeral em homenagem ao Floyd acontecerá simultaneamente ao de Minneapolis – Sharpton é conhecido por suas habilidades retóricas durante os sermões da igreja desde que ele tinha apenas quatro anos de idade.

Aos nove anos, foi ordenado ministro pentecostal e, quando ainda era adolescente, foi escolhido pelo reverendo Jesse Jackson como diretor de jovens em Nova York para uma iniciativa nacional de combate à pobreza em bairros negros.

Quando Martin Luther King foi assassinado em 1968, ele tinha 13 anos. Sua vida mudou radicalmente em 1973, quando conheceu o cantor de soul James Brown em um show e acabou passando vários anos em turnê com o músico.

Nessa época também conheceu sua futura esposa, Kathy Jordan, uma das integrantes do coral Brown.

– Polêmica –

O ativismo político de Sharpton explodiu no início dos anos 80, ao lado de crescentes tensões raciais em Nova York.

Em 1985, ele chegou ao noticiário nacional, como líder dos protestos contra Bernard Goetz, que matou quatro adolescentes negros que o incomodavam no metrô e que foi absolvido por agir em legítima defesa.

O sucesso dos protestos estabeleceu uma tendência, e Sharpton liderou outras manifestações em incidentes semelhantes, inclusive depois que um rabino atropelou um jovem negro, levando a violentos confrontos entre negros e judeus em Nova York.

Críticos disseram que suas táticas eram divisivas, oportunistas e inflamatórias, destacando especialmente o caso de Tawana Brawley, em 1987, que afirmou ter sido estuprada por seis policiais brancos.

Sharpton tornou-se o principal defensor de Brawley e acusou o vice-procurador público de estar envolvido no estupro.

O juri determinou mais tarde que Brawley inventou o incidente e Sharpton foi obrigado a pagar ao procurador US$ 65.000 por difamação. No entanto, ele sempre se recusou a se desculpar por seu papel no escândalo.

“Para alguns, esse caso define minha carreira e é a única razão pela qual eu não deveria ser apoiado por ninguém neste país”, escreveu ele em seu livro de 2002, “Al On America”.

“Para mim, define minha carreira porque me recusei a baixar a cabeça ou me ajoelhar, apesar das pressões. Acreditei na palavra de uma jovem e, se tivesse que fazer isso de novo, faria”, acrescentou.

À medida que sua notoriedade crescia, ele foi acusado de uso indevido de fundos e teve problemas com as autoridades fiscais.

Sharpton diz que seu novo estilo mais calmo começou em 1991, quando foi esfaqueado e quase morreu quando se preparava para liderar uma marcha de protesto.

“Depois disso, senti que queria ser mais substantivo, mais do que uma palavra de ordem que as pessoas gritam nas ruas”, disse. “Eu tinha que ser menos frívolo e mais sóbrio no meu estilo”, acrescentou.

Sharpton concorreu sem sucesso ao Senado de Nova York em 1992 e 1994, a prefeito de Nova York em 1997 e foi pré-candidato presidencial democrata em 2004.

Ele não obteve votos para vencer, mas o suficiente para ser levado a sério por seus rivais.

O presidente Donald Trump o descreveu como “um vigarista, um agitador”.

“Eu causo problemas aos intolerantes”, respondeu Sharpton.