Com o final do ano chegando, as listas e balanços para medir como foi 2021 não param de surgir. Na economia não poderia ser diferente. Os 12 meses deste ano, que deveriam ser marcados por vacina e reabertura econômica, foram recheados de gatilhos nocivos para o andamento esperado do mercado, das empresas e da renda do brasileiro. A seguir, os principais pontos da lista da DINHEIRO sobre o desempenho econômico:

Inflação

O avanço nos preços administrados no Brasil foi, sem dúvida, um dos mais visíveis na economia do dia a dia. Muito possivelmente encerrará dezembro em torno de 10% e os motivos são diversos. A alta do dólar é um fator que já vinha pressionando o IPCA desde o ano passado, mas a persistência dela em 2021 afetou diretamente o valor do combustível, conta de luz e alimentos. Como forma de tentar conter esse avanço, o Banco Central, que ganhou autonomia em 2021, subiu a taxa básica de juros em reuniões consecutivas, com o último aumento elevando a Selic para 9,25%, ante aos 2% do final de 2020. Muito possivelmente ela passará dos 11% no em 2022, voltando aos níveis de 2017.

  • Combustíveis

Também influenciado pelos preços internacionais, em especial do barril de petróleo, o valor do combustível nas bombas escalou rapidamente em 2021. Passou de uma média de R$ 4,22 em novembro de 2020 para R$6,9 neste ano, uma alta de 51%, segundo o Índice de Preços Ticket Log (IPTL). Sem interferência do governo, os preços administrados pela Petrobras também acertaram a casa dos brasileiros, com o botijão de gás chegando em R$ 140 e colando famílias na dependência do fogão à lenha. Há um ano, o valor era R$ 100 segundo dados da Fundação Getúlio Vargas.

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  • Energia elétrica

A escassez de chuva em 2021 também secou o bolso do brasileiro, isso porque a maior fonte de energia no Brasil depende de recursos hídricos. As hidrelétricas entraram em situação de alerta em todo Brasil, e os custos para operação ficaram maiores. Para sustentar esse aumento, os brasileiros precisaram pagar mais. O acionamento do sistema reserva fez a bandeira vermelha chegar ao nível 2. O valor foi insuficiente, e exigiu que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criasse a bandeira de escassez hídrica, que adiciona R$14,20 já conta a cada 100 quilowatts-hora consumidos. Segundo o IBGE, a conta de luz ficou 32% mais cara em um ano até outubro, e com a pior seca do Sudeste em 90 anos, a tarifa especial seguirá em 2022.

  • Teto de gastos

Âncora fiscal criada em 2016, o teto já estava rachando desde 2020, com o presidente Jair Bolsonaro pressionando o ministro da Economia, Paulo Guedes, a encontrar recursos para uma agenda positiva. Em 2021 o teto furou. Com argumento de se obter recursos para financiar o Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família, governo e Congresso deram um tiro no teto, e conseguiram R$ 106,2 bilhões em gastos. A manobra envolve recalibrar o pagamento de precatórios, rever o cálculo da inflação no teto e oferecer benesses para estados e municípios. E como isso atinge a economia? Sem dar ao mercado sinais de comprometimento fiscal, a confiança no Brasil recua, e os investimentos e empregos também.

  • Privatizações

Não houve em 2021 um avanço consistente de nenhuma privatização anunciada pela equipe econômica. Correios, Eletrobrás e até Petrobras ganharam espaço no noticiário com o presidente dando suas vendas como certas, mas nada foi decidido. Com projetos confusos, todas as privatizações ficaram paradas no Congresso. E o efeito disso é que o governo não conseguiu arrecadar o esperado com as vendas, diminuir a dívida pública e melhorar a situação fiscal.

  • Reformas 

As reformas administrativa e tributária ficaram em coma neste ano. Os projetos do governo até saíram do Palácio do Planalto, mas encontraram um ambiente inóspito no Legislativo. Isso porque, no caso da tributária, outras propostas já tinham discussões avançadas. No caso da administrativa, uma forte resistência do funcionalismo público minou as chances de se diminuir o tamanho do Estado. Com pouco capital político, Guedes deixou assuntos de lado, principalmente porque o próprio presidente se mostrava abertamente contra as medidas.

  • Emprego

Ainda que o Brasil tenha conseguido criar vagas de emprego em 2021, o problema da falta de oportunidade de trabalho também guiou o dia a dia das famílias. O aumento exponencial de postos de baixa qualidade (com remunerações e benefícios piores do que antes da crise) houve um crescimento acelerado de pessoas trabalhando por conta própria. O IBGE estima que 7 milhões de pessoas partiram para este tipo de ocupação, que envolve desde vendedores de bala no semáforo até empresas que contratam sem vínculo empregatício. Isso fez com que a renda média do brasileiro caísse em torno de 10% em um ano e 15% comparado ao período pré-pandemia, segundo o Ipea. Com a inflação passando de 10%, o salário médio do brasileiro está ajustado aos níveis de 2015.