Os indicadores recentes de atividade econômica – que já fazem o governo emitir sinais de que a recuperação do País é lenta, mas consolidada – têm empolgado mais o mercado financeiro do que os economistas. Entre eles, a percepção é de que a economia dá sinais de melhora, mas a crise política adiou discussões relevantes, como a reforma da Previdência e a questão fiscal.

Na semana passada, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, voltou ao patamar dos 71 mil pontos, embalado pelo pacote de privatizações anunciado pelo governo, que inclui a Eletrobrás e o aeroporto de Congonhas. Em um ano, a valorização acumulada da Bolsa é de 23,13%.

Apesar de reconhecerem avanços, economistas ouvidos pelo Estado são mais ponderados: há motivos para comemorar, mas a recuperação ainda é lenta e é preciso manter a percepção de que questões relevantes, como a fiscal, devem ficar para o próximo governo.

O professor da PUC-Rio José Marcio Camargo diz que parte da desconfiança dos economistas com a recuperação do País se explica pela neblina trazida pela situação política. “Mesmo que o governo não consiga mais fazer a reforma da Previdência que gostaria, algumas medidas de cortes de gastos estão sendo tomadas no curto prazo. A maior tranquilidade do mercado tem muito a ver com o que foi feito nos últimos 14 meses.”

Para José Roberto Mendonça de Barros, sócio fundador da consultoria MB Associados, há mesmo um certo descolamento entre as avaliações do mercado financeiro e dos economistas. “Menos empolgados que o governo, os economistas também acreditam que o País parou de piorar, mas o enfraquecimento do Planalto após a delação do Joesley Batista, da JBS, freou essa recuperação. O mercado, por sua vez, é mais prático. Ele basicamente olha que foram aprovados a reforma trabalhista e o teto de gastos, que o governo pôs na mesa a discussão da TLP – a nova taxa de juros do BNDES – e acha que, apesar da demora na recuperação, está tudo bem encaminhado.”

Mendonça de Barros lembra que os investidores também apostam em sinais ainda não consolidados de que o segundo semestre será de números melhores na oferta de crédito e nas exportações. “Há uma perspectiva de que a Argentina cresça 2,7% neste ano, o que significa a recuperação mais robusta de um mercado onde os produtos brasileiros de maior valor, como carros, têm boa entrada.”

Concessões

O economista José Luis Oreiro, da Universidade de Brasília, diz que o mercado ficou eufórico com a agenda de privatizações, mas que o impacto fiscal será muito pequeno. “Não resolve o problema e não destrava o investimento. Mesmo nas privatizações relevantes, como a da Eletrobrás e de aeroportos, até que o novo controlador tome posse e faça investimentos levará tempo”, disse.

“Parece haver uma falta de pressa. O governo, que já demorou demais para cortar juros, ainda perde tempo com medidas de pouco impacto, como o plano de demissão voluntária de servidores. Vamos terminar o ano com um PIB perto de zero e não parece haver senso de urgência por parte do governo.”

Em entrevista na semana passada ao Estado, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman disse que os economistas percebem mais claramente que a dificuldade de o governo pôr a área fiscal em ordem pode prejudicar o crescimento no médio e no longo prazos. “É uma vulnerabilidade óbvia do País a que ninguém está prestando muita atenção. Mas o fato é que isso é possível, porque estamos em um mundo de juros muito baixos e de investidores globais dispostos a correr riscos. Quando a maré está alta, você pode nadar pelado. O problema é quando a maré baixar.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.