Duas das maiores referências no mercado brasileiro de viagens de alto padrão, Teresa Perez Tours e LTN Brasil – dos segmentos de lazer e corporativo, respectivamente – anunciaram na semana passada a criação de uma nova agência, a TP Corporate. O anúncio aconteceu em um momento de reflexão global sobre o novo papel das TMCs – sigla para Travel Management Corporate, como são chamadas as agências de viagens de negócios. O setor foi devastado pela crise econômica gerada pelo avanço da pandemia. A maior parte das empresas contratantes das agências supriu, com a tecnologia, os deslocamentos de seus executivos e também passou a evitar a presença de visitantes em suas dependências, tendo em vista o risco de contágio. O resultado foi drástico. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), as vendas das associadas em 2020, considerando produtos como bilhetes aéreos, hospedagem, seguros e pacotes de viagem, entre outros, sofreram queda de 67,4% em relação a 2019.

Mesmo com um cenário nada animador, à medida que a vacinação avança entre a população mundial, as estimativas de retomada começam a se desenhar, a princípio, para o segundo semestre de 2021, com antecipação de reservas para 2022 a partir de junho deste ano. E ainda que as incertezas quanto à recuperação do setor sejam grandes, uma coisa é certa: nesse nicho, nada será como antes. “A pandemia acabou atraindo um valor mais estratégico para as agências”, disse à DINHEIRO Gustavo Bernhoeft, presidente da LTN Brasil. “A responsabilidade das empresas aumentou consideravelmente com seus principais executivos.”

Se antes da pandemia as companhias contratavam agências de gerenciamento de viagens corporativas sobretudo para economizar tempo e dinheiro (por exemplo, simplificando o processo de reservas de voos e hospedagem, e elaborando relatórios com opções de descontos), a incerteza em torno da Covid-19 fez com que essa contratação ganhasse complementos inéditos. Mais do que intermediadoras, as TMCs assumem a função de consultoras de mobilidade corporativa, priorizando fatores como segurança, saúde e bem-estar dos viajantes, do início ao fim da viagem. A começar pelo rastreio da disseminação da Covid-19 e pela avaliação do risco viral para determinados mercados. “Se um cliente está num país que decide fechar de um dia para o outro a sua fronteira, a agência irá proativamente sugerir planos B e C para contornar a situação”, disse Bernhoeft.

UNINDO FORÇAS Gustavo Bernhoeft e Tomas Perez estão confiantes na retomada do setor a partir do segundo semestre deste ano. (Crédito:Divulgação)

Outro modelo que surgiu com a pandemia está ligado a viagens de longa duração em virtude da exigência de cumprimento de quarentena ou repatriação e exportação, fatores que demandam o apoio logístico para mudança de países. É o caso de clientes dos segmentos financeiro, manufatureiro e diplomático, que requerem cuidados de ponta a ponta, desde os preparativos com a viagem até o retorno. Sem falar em outras necessidades que vêm sendo discutidas internacionalmente, como a logística para armazenamento e compartilhamento de registros de vacinação, como uma espécie de passaporte digital de saúde.

A pandemia também despertou o interesse das empresas para o mercado de aviação executiva. Antes restrito principalmente a grandes corporações com frotas próprias, o setor é hoje um dos primeiros a demonstrar nítido incremento de demanda no nicho de viagens de negócios.

Com previsão de faturamento de R$ 100 milhões em três anos, a TP Corporate é uma empresa independente, com participação de 50% da Teresa Perez Tour – que ficará responsável pelo marketing, gestão de fornecedores e parcerias para experiências de bem-estar – e 50% da LTN Brasil, com 25 anos de experiência em viagens corporativas, que fornece a infraestrutura. Já a direção comercial da TP Corporate está sob o comando de Cibeli Marques, ex-Palácio Tangará.

ÚTIL E AGRADÁVEL Dentro da nova forma de atuação das TMCs, uma tendência que se consolida é o conceito de bleisure. Trata-se da junção de dois termos em inglês (business e leisure, ou negócios e lazer), que define a agregação de valor às viagens executivas em termos de experiências. É como disponibilizar ao viajante corporativo serviços do turismo de lazer, para que aproveite o tempo livre no destino, colocando em prática atividades pessoais. “O bleisure casa muito bem com o nosso pool de serviços, especialmente num momento em que diversas empresas experimentaram um modelo mais flexível de trabalho em relação ao home office”, afirmou à DINHEIRO Tomás Perez, presidente da Teresa Perez Tours. Perez, inclusive, informou que esse tipo de demanda já foi tema de conversas iniciais com potenciais clientes. Ele se diz otimista em relação à evolução do mercado em 2021 e confiante sobre a expertise aplicada ao novo negócio. “Vamos aliar o conhecimento da Teresa Perez e seus consultores que conhecem os principais destinos para lazer com a infraestrutura da LTN Brasil.”