Surpreendidas pelo aparecimento da pandemia do novo coronavírus nos Estados Unidos em março, as empresas americanas foram atingidas em cheio pelas consequências do confinamento no segundo trimestre do ano.

Enquanto os resultados de algumas se anunciam desastrosos, outras tiveram bons desempenhos.

O lucro das 500 principais empresas cotadas em Wall Street vão cair em seu conjunto 44% com relação ao mesmo período do ano passado, estima a empresa de dados financeiros Factset.

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Mas não é simples determinar o impacto de uma crise sanitária inédita nas atividades de cada empresa.

Diante de uma doença imprevisível, muitas delas optaram por não divulgar prognósticos de desempenho. A priori, nenhum setor sairá ileso.

Com a queda vertiginosa dos preços do petróleo, as empresas de energia deverão ver seus ganhos severamente reduzidos.

Por outro lado, as companhias que dependem de gastos não essenciais, como lojas de roupas, automóveis ou bilhetes de avião, também foram fortemente impactadas.

Uma amostra disso são as quebras de grandes nomes destes setores, como JC Penney, Hertz e Chesapeake Energy.

Ao contrário, setores como de tecnologia e serviços de saúde terão resultados melhores, com “lucros que poderiam apenas baixar 10% ou menos que isso”, segundo Nate Thooft, encarregado de estratégia em investimentos da Manulife Asset Management.

As empresas que se adaptaram rapidamente ao imprevisto conseguiram diminuir o impacto da crise.

A Nike, por exemplo, reportou 75% de aumento em suas vendas online entre março e maio, o que permitiu à fabricante de material esportivo compensar parte da queda de receita provocada pelo fechamento de suas lojas físicas.

– Disparidade e incerteza –

De qualquer forma, vários elementos dificultam qualquer previsão.

Em situações como esta, “de alguma forma é comum que as companhias ‘joguem fora o bebê junto com a água do banho'”, uma expressão usada para designar a perda de algo positivo na tentativa de se desfazer de algo ruim, alerta Thooft. Isto poderia “fazer com que as coisas pareçam ainda piores”, acrescenta.

 

A atividade foi afetada, ainda, por uma grande flutuação ao longo do trimestre, com um mês de abril marcado pelo confinamento quase generalizado e um relaxamento progressivo das restrições em maio e junho.

Inclusive em um mesmo setor de atividade, os resultados têm sido díspares, como por exemplo em empresas que dependem do consumo.

“As plataformas de comércio online prosperaram, as lojas de produtos essenciais e alimentícios viram suas vendas decolarem antes de manter certo crescimento, e os vendedores de artigos domésticos, de hobbies e brinquedos tiveram um desempenho melhor do que o habitual”, destaca em nota o escritório especializado Earnest.

Por outro lado, também segundo o Earnest, os setores “não essenciais” como restaurantes, vestuário e lojas de departamento têm enfrentado muitas dificuldades, enquanto setores de alto risco, como o de entretenimento e viagens, pararam completamente.

Também é complexo avaliar o custo das diversas medidas adotadas pelas empresas para se adaptarem à emergência sanitária, da migração ao teletrabalho ou à instalação de divisórias sanitárias.

De qualquer forma, tentaram reduzir suas despesas, inclusive o montante em dinheiro que entregam a seus acionistas.

As empresas cotadas na Bolsa de Nova York pagaram 42,5 bilhões de dólares a menos em dividendos durante o segundo trimestre em comparação com o mesmo período de 2019, a queda mais forte desde 2009.

O desempenho das companhias está ligado, ainda, às suas próprias estratégias.

É o caso dos grandes bancos, que darão início à temporada de publicação de resultados esta semana, e sobre os quais os analistas se perguntam até que ponto contemplaram como fazer frente aos empréstimos que não serão reembolsados.

“Os bancos dependem muito da saúde financeira, portanto em tempos de crises é de se esperar que a atividade dedicada a pessoas físicas sofra”, disse Joshua Mahony, da companhia IG.