O segmento de planos de saúde vem perdendo clientes de maneira contínua. Em dezembro de 2014, o setor chegou a atender 50,5 milhões de usuários. No entanto, desde então, esse número vem encolhendo. A baixa mais efetiva ocorreu entre 2015 e 2017. A forte crise econômica alijou 3,1 milhões de pessoas do sistema. Nos últimos tempos, a trajetória de queda perdeu velocidade, mas manteve sua direção. Segundo um estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), divulgado em setembro, os convênios figuram com menos de 47 milhões de beneficiários pela primeira vez desde março de 2012. O levantamento aponta que mais de 93 mil vínculos foram rompidos com os planos de saúde somente entre os meses de abril a julho deste ano. Na avaliação dos últimos 12 meses, finalizados em julho, a perda de clientes alcança os 133 mil.

Para impedir isso, é preciso que a economia volte à plena forma. A capacidade do País retomar o crescimento da atividade econômica e do emprego formal é fundamental para o desenvolvimento do segmento da saúde suplementar. Aproximadamente 75% dos contratos do setor são do tipo coletivo ou empresarial. E não há sinais no horizonte que mostrem um aquecimento da demanda no curto prazo. “Apesar de terem diminuído nos últimos trimestres, os indicadores do desemprego ainda apontam uma recuperação lenta”, diz Orestes Pullin, presidente da Unimed, escolhida a melhor do setor nesta edição do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO. “Caso as reformas da Previdência e Tributária não sejam aprovadas o quanto antes, a economia só deve apresentar uma retomada no ano que vem, oferecendo condições melhores para a saúde privada em 2020”, afirma o executivo.

Em relação ao modelo das cooperativas popularizado pela Unimed, Pullin diz que está promovendo um trabalho de recuperação dos princípios e ideais que as diferenciaram junto à população nas últimas décadas. “A Unimed é apoiadora do movimento SomosCoop, criado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) para disseminar à sociedade que nosso modelo de negócios tem o potencial de contribuir, e muito, ao desenvolvimento econômico e social do País”, afirma o presidente da seguradora.

Orestes Pullin / Empresa: Unimed / Cargo: presidente / Principal realização da gestão: promoção de um trabalho de recuperação dos princípios e ideais que diferenciaram o modelo das cooperativas popularizado pela Unimed junto à população (Crédito:Divulgação)

Características como resiliência diante de dificuldades financeiras e capilaridade são citadas pelo executivo como as vantagens desse modelo de negócios. Ele classifica as cooperativas como de extrema relevância para solucionar os desafios na saúde brasileira. “É preciso avançar na discussão de um novo modelo assistencial baseado na Atenção Primária à Saúde (APS)”, diz Pullin. “Vemos na chegada de um novo governo uma boa oportunidade de contribuir com a implementação desta modalidade de atendimento em todo o País e ajudar em diversos outros pontos”, afirma ele. Especificamente sobre APS, a atuação da Unimed é crescente, diz o presidente do grupo. Hoje, a empresa tem projetos dentro desse modelo em 67 cooperativas pelo País, atendendo, aproximadamente, 300 mil beneficiários. “Estamos engajados na mudança em contratos, para que sejam mais sustentáveis e promovam melhoria na qualidade assistencial, sendo mais compatíveis com a nova realidade e necessidades do mercado”, diz Pullin.

Segundo o presidente da Unimed, outra área que merece atenção especial é a tecnologia de comunicação, com a facilitação do uso de aplicativos pelos beneficiários e a utilização de informações para melhorar questões assistenciais, promovendo mais assertividade. O executivo diz que a tendência cibernética contribui para trazer mais segurança aos atendimentos, com projetos como o Registro Eletrônico de Saúde (RES) e o prontuário eletrônico, que a Unimed está implementando em sua rede. “O foco também tem sido cada vez maior na prevenção, o que significa investimentos em programas de qualidade de vida”, diz o presidente da Unimed. “Só assim garantiremos uma assistência com a qualidade necessária e a valores justos”.

Segundo os dados mais recentes da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), o mercado de saúde suplementar brasileiro tinha, em dezembro de 2018, aproximadamente 71 milhões de beneficiários, sendo 47 milhões de planos médicos e 24 milhões de odontológicos. “Junto a toda a cadeia de saúde, a FenaSaúde vem buscando combater o aumento dos custos na saúde, por meio de incentivo à atenção primária, do combate a fraudes e desperdícios e da adoção de novos modelos de remuneração dos prestadores”, diz a federação.

Em 2018, o setor, que gera cerca de 3,4 milhões de empregos diretos ou indiretos, movimentou R$ 200,4 bilhões (ou 2,9% do Produto Interno Bruto). A maior parte (80%, ou R$ 161,5 bilhões) foi consumida pelo pagamento de despesas assistenciais. Com a crise, desde 2014 cerca de três milhões de pessoas deixaram de ter planos de saúde, uma queda de 6% no período. Entretanto, as despesas assistenciais não pararam de aumentar — subiram 51,8% em termos nominais, ou 20,8% acima da inflação nos últimos quatro anos.

Segundo a FenaSaúde, em média os custos médico-hospitalares variam de três a quatro vezes acima da inflação geral em todo o mundo. E no Brasil não é diferente. De acordo com especialistas da federação, a alta dos custos decorre de uma série de fatores, como a incorporação de novas tecnologias, o crescimento da frequência de utilização dos serviços e recursos, o desperdício, o envelhecimento populacional, o aumento de preços de insumos e procedimentos e a judicialização.

“Para a FenaSaúde, os desafios do setor abrangem a volta dos planos individuais e a adoção de novos modelos de remuneração”, diz a federação, que cita ainda programas de prevenção e gestão de saúde como alternativa para reduzir custos e oferecer mais opões de coberturas compatíveis com as escolhas e as capacidades de pagamento das famílias e empresas.