São Paulo, 8 – Assim como as cooperativas, as empresas cerealistas estão preocupadas com a restrição da oferta de recursos e a alta de custo das linhas de crédito de capital de giro em virtude das incertezas sobre o efeito do coronavírus, disse o presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), Arney Frasson, ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. O setor costuma pagar os grãos adquiridos de produtores até 10 dias depois do fechamento do negócio, mas revende o produto para tradings e indústrias, ou diretamente para clientes no exterior, com prazos de pagamento mais longos, que em alguns casos chegam a 60 a 90 dias, dependendo da necessidade de compradores e do espaço nos portos.

“As cerealistas antecipavam recursos com os bancos, pagavam ao produtor, depois recebiam o pagamento do negócio e encerravam a operação. Mas os bancos aumentaram as taxas de juros para quem ainda tem limite e cortaram linhas de crédito”, afirma Frasson.

Conforme o representante, as taxas para cerealistas, que até a pandemia de coronavírus giravam em torno de 120% a 140% do CDI, subiram, em alguns casos, a mais de 200% do CDI.

Em alguns casos, segundo ele, não houve renovação dos limites mesmo após o pagamento de crédito tomado anteriormente. “Houve dificuldade momentânea de fluxo de caixa”, disse. Algumas cooperativas e cerealistas ampliaram o prazo de pagamento junto aos agricultores.

Neste ano, a necessidade de capital de giro é ainda maior porque produtores já fixaram boa parte da soja que está sendo colhida no País em virtude da alta do dólar, que tornou os preços mais atrativos. Segundo Frasson, o produtor costuma entregar a safra às cerealistas de forma concentrada, entre fevereiro e março, mas vai fixando o preço aos poucos. “O padrão é 50% da safra vendida até maio, depois vai vendendo um pouco a cada mês. Neste ano, com a alta do dólar, produtores no Paraná já comercializaram, em alguns casos, de 75% a 80% da safra”, disse.

Para amenizar o aperto pontual, a associação pediu ao Ministério da Agricultura liberação de recursos para financiar a comercialização. “O governo não tem como obrigar os bancos a emprestar, mas tem mecanismos para fazer com que possa fluir melhor o recurso”, disse.

Uma das alternativas seria a possibilidade de mudança no porcentual de recursos que os bancos devem direcionar ao crédito rural.

O que anima o setor, segundo Frasson, é que o ano foi de boa produção na maior parte do Brasil. “No Paraná e em Mato Grosso do Sul, onde atuamos mais, a safra foi boa, então houve uma tranquilidade da liquidação das contas”, disse. A exceção é o Rio Grande do Sul, onde produtores vão colher menos por causa das adversidades climáticas e podem ter maior dificuldade financeira.

Além da ampla produção no País, a cotação das culturas está firme. “Falando de milho, soja e trigo, que são as culturas com as quais os cerealistas mais trabalham, os preços estão ótimos, as produções foram razoáveis, com exceção do Rio Grande do Sul, e o produtor está bem, então as perspectivas são boas. A exportação de soja continua fluindo e há demanda, e o milho está com preços historicamente altos”, afirmou.