Aconteceu o inevitável. Os fundos de investimentos tiveram R$ 162,9 bilhões em resgates líquidos (retiradas x aportes) em 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O número é recorde histórico. Em 17 anos, apenas em 2008 houve resultado negativo, de R$ 65,6 bilhões (ver gráfico ao lado). Foi também uma brutal reversão dos R$ 369 bilhões positivos de 2021. O pior desempenho ficou com os Multimercados: emagreceram R$ 87,6 bilhões. Os Fundos de Ações aparecem na sequência, com R$ 70,5 bilhões. E mesmo os de Renda Fixa tiveram queda, com R$ 48,9 bilhões em saques. Isso totalizou a fuga de R$ 207 bilhões. Já os movimentos positivos aconteceram em Previdência (R$ 13,1 bilhões), FIDCs (R$ 12,7 bilhões) FIPs (R$ 17,8 bilhões) e ETFs (R$ 0,36 bilhão).

Segundo a Anbima, Ações e Multimercados sofreram com a alta da taxa básica de juros, a Selic, que foi de 2% para 13,75% num prazo de 14 meses, fazendo com que a renda variável virasse uma espécie de mico do ano. “Já os fundos de Renda Fixa perderam para produtos do segmento que possuem isenção de imposto de renda para pessoa física”, afirmou em comunicado a Anbima. Ou seja, o investidor realmente preferiu transformar 2022 num momento de proteção total e baixíssimo risco.

De acordo com o CIO da Trígono Capital, Werner Roger, o cenário internacional pode trazer uma possível retomada para os Fundos de Ações. “Os dados mais recentes da inflação dos EUA mostram que os preços estão desacelerando, o que significa que os juros do Fed podem não subir tanto”, disse. Isso provoca menos atratividade aos títulos americanos. Roger acredita que há a possibilidade de uma reação do mercado acionário brasileiro caso o ambiente externo fique positivo nos próximos meses. “Se o apetite ao risco do investidor estrangeiro voltar, o Brasil será um dos primeiros a mostrar recuperação, visto que o investidor estrangeiro vê Lula com bons olhos, por causa da questão ambiental e do desempenho da Bolsa em seus dois últimos mandatos.”

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“Os ativos pós-fixados de renda fixa seguem sendo os prediletos, principalmente para perfis mais conservadores e moderados” Rodrigo Sgavioli, Head de Alocação e Fundos da XP Investimentos.

O head de Alocação e Fundos da XP, Rodrigo Sgavioli, recomenda que investidores arrojados devem manter exposição aos fundos de investimentos de ações. “Seguimos sugerindo uma parcela razoável de renda variável Brasil para esses perfis”, afirmou. “Principalmente para quem tem horizonte de investimento superior a três anos.” Na prática, quem puder ter folga para emergências num lado da carteira e possibilidade de manter investimentos de olho no longo prazo, a Bolsa pode trazer achados. Para quem prefere investir em ativos de risco sem apoio de fundos, Sgavioli diz que o melhor é olhar para três categorias de empresas. A primeira, de commodities, que continuam oferecendo uma boa proteção contra inflação e o dólar mais alto. As outras duas categorias são “companhias pouco correlacionadas com o crescimento” e “empresas de qualidade, que devem permanecer resilientes”.

PERFIL CONSERVADOR De toda forma, o cenário de 2023 não se desenha muito distante do de 2022 em termos de juro. E isso fará o pêndulo total mirar mais na renda fixa. O chefe de Soluções de Investimentos da Santander Asset, Renato Santaniello, acredita que os juros não devem arrefecer. “O mercado não precifica que o Banco Central já vai trabalhar com juros mais baixos após essa queda recente de inflação”, disse. Tanto que o mais recente Boletim Focus estima que a Selic termine 2023 a 12,25%.

Na Anbima, que trabalha com o mercado real de fluxo de grana dos investidores, o prefixado para um ano já estava em 13,37% na terça-feira (17). Sendo assim, Rodrigo Sgavioli, da XP, comenta que para os perfis conservadores e moderados, o melhor é aplicar na renda fixa. “Os ativos pós-fixados seguem sendo os prediletos para 2023 com risco bastante baixo”, afirmou.