Quem observa a fotografia acima pode até imaginar que se trata de algum luxuoso palacete em uma elegante cidade europeia. Errado. Trata-se do Palácio Tangará, o primeiro hotel seis estrelas do País. Vizinho ao Parque Burle Marx, às margens do Rio Pinheiros, em São Paulo, o empreendimento é o símbolo de uma nova era do setor hoteleiro da maior cidade da América do Sul. Além dele, que será gerido pelo grupo alemão Oetker Collection, estão sendo esperadas outros duas grandes inaugurações até 2018 na capital paulista: o canadense Four Seasons e o Cidade Matarazzo, do grupo francês Allard.

Juntos, eles vão somar quase 600 quartos ao portfólio de 4,8 mil habitações de alto padrão, segundo a SPTuris, órgão de promoção ao turismo e eventos da cidade. Apesar de representar um aumento de 12,5%, em número, o maior ganho será na mudança de patamar de São Paulo no mercado de luxo. “Não tínhamos tantas marcas de renome internacional”, diz Pedro Cypriano, sócio da Hotel Invest. “Até mesmo cidades menores do continente, como Bogotá, estavam na nossa frente.” Em 2016, apesar do atraso em relação aos nossos vizinhos, a taxa média de ocupação dos hotéis de alto padrão, de 61,33%, foi maior do que a apresentada pelos econômicos no País, de 59,75%, pelos cálculos da SPTuris.

Ao mesmo tempo, a diária é três vezes superior, trazendo uma alta rentabilidade. O grande responsável por esses números é o turismo de negócios, principal chamariz de executivos para a capital paulista. O Palácio Tangará, no entanto, pretende ultrapassar essa fronteira e mostrar aos seus hóspedes que São Paulo é muito mais do que trabalho. “Temos a convicção de que o entretenimento é mal explorado por aqui”, diz Celso David do Valle, diretor-geral do hotel. “A ideia é apresentar São Paulo como um destino interessante aliado a um serviço de nível europeu do Tangará.”

O hotel possui 141 quartos, com diárias que vão de R$ 1,5 mil até R$ 38,5 mil, e aposta num conceito de oásis urbano para convencer a clientela executiva a estender a estadia. A decoração inspirada em edificações europeias também servirá para ajudar estrangeiros a se sentirem mais familiarizados com a cidade. Para completar, foi feita uma parceria com o chef francês Jean-Georges Vongerichten, três estrelas no renomado Guia Michelin, para a criação do cardápio. A abertura está prevista para o segundo semestre deste ano, mas problemas de licença ambiental podem atrasar a inauguração.

Na quinta-feira 16, a Prefeitura de São Paulo rejeitou o pedido feito pelo hotel, pois o atestado de conclusão da obra não tinha sido anexado. ficialmente, Valle mantém os planos de começar a operar em 2017. Inclusive, segundo ele, o Palácio já recebeu mais de 30 consultas para eventos, como casamentos, em seus salões de até 500 m². O preço para a locação dos espaços pode alcançar R$ 80 mil. Outra rede que pretende disputar a preferência dos estrangeiros com o Tangará será o Four Seasons, renomada cadeia canadense de hotéis e resorts.

Tocado pela Iron House, subsidiária do Grupo Cornélio Brennand, de Pernambuco, o prédio de 30 andares localizado na região do Brooklin, na Zona Sul de São Paulo, se encontra em construção e deve começar a receber os hóspedes no primeiro trimestre do ano que vem. Até lá, o CEO da Iron House, Ruy Rego, procura capitalizar o hotel, que terá 254 quartos e custo estimado de R$ 800 milhões. Além de procurar investidores, como o fundo árabe Abu Dhabi Investment Authority, que aportou R$ 400 milhões no projeto, também está comercializando apartamentos no edifício.

Quem quiser morar em um dos 84 apartamentos do Four Seasons precisará desembolsar, no mínimo, R$ 2,5 milhões. “Os moradores terão exatamente o mesmo serviço visto no hotel”, diz Rego. “Desde limpeza e geladeira reabastecida com produtos da sua preferência até um chef particular para um jantar especial.” O executivo não revela quantos imóveis foram vendidos, mas afirma que está de acordo com o previsto no início do projeto. Além de trazer requinte aos endinheirados que estão visitando São Paulo, os hotéis ajudam a recuperar a identidade de edifícios e regiões que perderam seu charme com o tempo.

É o caso do Hotel Matarazzo, que será inaugurado no fim de 2018 com 151 quartos no mesmo local onde funcionava o Hospital Matarazzo, próximo à Avenida Paulista. O projeto de revitalização do prédio foi desenhado pelo francês Jean Nouvel, ganhador do prêmio Pritzker em 2008, considerado o Oscar da arquitetura. Entre os artistas que ajudaram nos desenhos também está o renomado designer Philippe Starck. O grupo francês Allard é o responsável pela revitalização. “São Paulo começou a se vender como um lugar similar à Nova York e tem atraído mais estrangeiros para investir na rede hoteleira”, afirma Bruno Omoro, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo.

As novas bandeiras terão como principais concorrentes hotéis considerados boutiques. É o caso do tradicional Fasano, conhecido por sua sofisticação, e do Emiliano, com o seu clima mais intimista, ambos localizados na região do Jardins, além do Unique, do bairro do Itaim Bibi, que possui um ar mais moderno. Juntos, os três somam cerca de 250 quartos, menos da metade dos estreantes. Para especialistas, haverá espaços para todos. “Com a recuperação da economia, é esperado um crescimento de visitantes, especialmente de negócios”, diz Cypriano, da Hotel Invest.