Quatro manifestantes morreram nesta quinta-feira (14) em Bagdá, em confrontos com forças de segurança, que continuam com a repressão, apesar das pressões políticas e diplomáticas para pôr fim à pior crise social do Iraque desde a queda de Saddam Hussein.

No total, mais de 330 pessoas, a maioria manifestantes, morreram durante esses protestos no Iraque, um dos países mais ricos em petróleo do mundo, mas também um dos mais corruptos.

Essas novas vítimas são registradas no momento em que a ONU multiplica as reuniões e a pressão para negociar uma saída da crise política, em vista de uma revisão do sistema eleitoral e da Constituição.

O centro de Bagdá agora parece um campo de batalha.

Mais ao sul, as províncias tribais e agrícolas permanecem paralisadas, em parte por causa da desobediência civil.

Nesta quinta-feira, quatro manifestantes foram mortos por gás lacrimogêneo, dez vezes mais forte do que o usado em outras partes do mundo, disseram fontes médicas à AFP.

Com o rosto protegido com simples máscaras médicas e capacetes de plástico, os jovens manifestantes costumam pegar as granadas de gás para devolvê-las às autoridades, que também dispararam munição real.

Esses artefatos militares já deixaram cerca de 20 vítimas entre os manifestantes.

– Reforma agora –

As pressões no mais alto nível ainda não conseguiram restaurar a calma.

A representante das Nações Unidas no Iraque, Jeanine Hennis Plasschaert, apresentou um plano de revisão do sistema eleitoral e da Constituição, apoiado pelo grande Aiatolá Sistani, uma figura guardiã da política iraquiana.

A comissão parlamentar pediu que os deputados “assumam suas responsabilidades” e façam reformas logo, “ou o momento será perdido”.

Os manifestantes alegam que querem mais: a reforma total do sistema político instalada após a queda do ditador Saddam Hussein em 2003, sob a égide do ocupante americano, e uma renovação completa da classe política, inalterada desde então.

Para serem ouvidos, os manifestantes voltaram a bloquear escolas e a maioria das administrações do sul, em Al-Hilla, Diwaniya, Kut e Nassiriyah.

Em Najaf, uma cidade sagrada xiita, até então livre de violência, o mercado da Cidade Velha, onde fica o mausoléu de Ima Ali visitado todos os anos por milhões de peregrinos, manteve-se fechado pela primeira vez em anos.

“Estamos dispostos a não ganhar nada por um dia, um mês, até 20 meses”, explica um vendedor.

“De qualquer forma, não ganhamos nada há 16 anos”, continua ele.

Para muitos manifestantes, o aiatolá Sistani relançou o movimento que enfraquecia, afirmando na segunda-feira que os iraquianos não deveriam “voltar para suas casas sem reformas”. Disse ainda duvidar da seriedade das autoridades para realizá-las.

Embora o governo tenha apresentado um projeto de lei eleitoral chamado “reforma emblemática” ao Parlamento, o texto ainda não foi incluído no programa da assembleia.