SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) -O representante comercial da empresa Davati Cristiano Carvalho disse em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira que autoridades do Ministério da Saúde o procuraram para tratar da venda de vacinas, e não o contrário, e confirmou um pedido de propina feito por um grupo de pessoas ligadas à pasta no âmbito da negociação.

De acordo com Carvalho, o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominguetti, também representante da Davati, relatou a ele o pedido de um “comissionamento” feito pelo coronel do Exército Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde.

“A informação que veio a mim… vale ressaltar isso não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco”, disse Carvalho aos senadores.

Blanco, à época, já não tinha mais ligação com o ministério, onde foi assessor do ex-diretor de Logística Roberto Dias, que foi demitido após ter sido acusado por Dominguetti de ser o responsável pelo pedido de propina.

No entanto, Carvalho afirma que foi procurado pelo coronel Blanco e que, apesar de não se apresentar como servidor do ministério, ele teria uma posição “dúbia”, porque não era servidor, mas continuaria assessorando Dias.

“Tinha uma posição meio dúbia ali era o coronel Blanco, porque ele era ex-assessor e continuava assessorando, mas não era nem um militar da ativa e nem um servidor no exercício da função então ficava meio dúbia a situação dele”, afirmou.

Carvalho disse ainda que logo após o jantar em que Blanco e Dias teriam pedido a Dominguetti a propina para compra de vacinas, o PM o informou do ocorrido.

“Inicialmente, logo após o jantar que ele eventualmente teve com o coronel Blanco e com o Roberto Dias –acredito que, no dia seguinte, no máximo–, eu fui reportado de que tinha um pedido de comissionamento extra… Passou-se algum tempo, num dia em que eu estive aqui em Brasília, no dia 12 de março, ele me explicou que tinha sido um pedido na presença do Roberto Dias”, contou.

Dias afirma que não fez pedido nenhum e que encontrou por acaso Dominguetti e Blanco em um restaurante em um shopping de Brasília. Não foi possível localizar Blanco para pedir um comentário.

1 DÓLAR POR DOSE

O representante da Davati foi convocado à CPI depois que Dominguetti disse ter recebido de Roberto Dias um pedido de propina de 1 dólar por dose de vacina para fechar uma venda de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca ao ministério. Dias nega irregularidades, e saiu detido da CPI quando lá prestou depoimento, acusado de mentir sob juramento.

Carvalho negou ter procurado o ministério para tentar vender vacinas e mostrou mensagens de celular impressas que apontam que ele foi procurado por Roberto Dias. “Eu nunca entrei em contato com o Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde é que me procurou através do sr. Roberto Ferreira Dias”, disse.

Carvalho disse ainda que o valor de 1 dólar por dose de vacina que teria sido pedido a Dominguetti nunca chegou a ele, e disse ser “absurdo”. Blanco, no entanto, perguntou a ele quanto era a comissão total que a Davati receberia pela venda de vacinas, ao que o representante da empresa afirmou que seria de 20 centavos de dólar por dose de vacina. Ao ouvir isso, Blanco teria dito que iria conversar com Roberto Dias.

Carvalho negou ter tratado de “comissionamento” com Dias, e disse que depois desse pedido feito a Dominguetti todos os contatos com ele foram feitos por Blanco.

Carvalho disse que esteve somente uma vez no Ministério da Saúde, em Brasília, no dia 12 de marco, e na ocasião se reuniu, com o então secretário-executivo da pasta, o coronel Élcio Franco, entre outras pessoas. Franco também já ouvido pela CPI.

A nova menção a Franco, que deixou a secretaria-executiva do Ministério da Saúde e atualmente ocupa o cargo de assessor especial da Casa Civil, levou o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), a defender que ele seja exonerado do cargo pois, segundo o presidente do colegiado, uma pessoa que tem o nome envolvido em suspeitas de irregularidades não pode ocupar um cargo “na antessala” do gabinete do presidente da República.

Mesmo com o presidente Jair Bolsonaro internado em um hospital em São Paulo, postagens na conta oficial dele no Twitter criticaram a CPI e o depoimento de Carvalho. A conta do presidente lembrou que nenhum acordo foi fechado pelo Ministério da Saúde por meio da Davati.

“O que frustra o G-7 (grupo de senadores da CPI) é não encontrar um só indício de corrupção em meu governo. No caso atual querem nos acusar de corrupção onde nada foi comprado, ou um só real foi pago”, disse a postagem.

“No circo da CPI Renan, Omar e Saltitante estão mais para três otários que três patetas”, acrescentou, em referência a senadores do colegiado.

(Reportagem de Eduardo Simões e Lisandra ParaguassuEdição de Alexandre Caverni)

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