A regra máxima não mudou. O bom retorno é o motor do mercado. A novidade é que cada vez mais os grandes investidores começam a olhar para os impactos que o dinheiro deles pode trazer para a vida e à sociedade. O retorno precisa estar limpo em toda a cadeia. Por esse motivo, o conceito de sustentabilidade vem ganhando força sob uma nova sigla, ESG (iniciais em inglês para ambiental, social e governança). Foi um dos temas principais do Fórum Econômico Mundial, em janeiro, em Davos. Com a chegada da pandemia da Covid-19, ele multiplicou de importância. São raras as discussões de investimentos em que a sigla não é citada.

Um dos maiores influenciadores desse movimento é Larry Fink, criador da BlackRock, o maior fundo do mundo, com gestão de mais de US$ 7 trilhões em ativos. Em janeiro, divulgou carta para seus clientes em que afirma que o “risco climático é risco de investimento” – se alguém imediatamente lembrou da lambança federal brasileira na gestão ambiental pensou certo. Na ocasião, Fink se comprometeu a elevar de US$ 90 bilhões para US$ 1 trilhão, em uma década, o valor investido pela BlackRock em ativos sustentáveis. “Sou ambientalista. Porém, não escrevi a carta como ambientalista, mas sim como capitalista”, afirmou, em apresentação durante o evento Expert, realizado pela XP este mês. Ele também disse que, nos seis meses que se passaram após a carta, 80% dos ativos ligados à sustentabilidade superaram índices tradicionais de referência de mercado. Ele ressaltou que o novo coronavírus preocupa, mas talvez até menos que os impactos previstos com as mudanças climáticas. Dessa forma, seria mais inteligente investir em empresas responsáveis.

Apesar de tímido, esse movimento ganha importância no Brasil. Um levantamento da SulAmérica Investimentos apontou a existência de 22 fundos de ações específicos para ESG totalizando R$ 957 milhões. A Mauá Capital anunciou recentemente que adotará os princípios em seu dia a dia e pretende oferecer serviços para empresas que queiram se comprometer com o modelo. Já a XP criou, no último mês, uma diretoria específica para iniciativas de responsabilidade socioambiental e de governança. Também anunciou o lançamento de dois fundos ESG. Para Marta Pinheiro, diretora de ESG da XP, empresas envolvidas com sustentabilidade se mostram as mais preparadas. “O que se notou durante a pandemia é que empresas com práticas ESG trouxeram retorno melhor do que as demais”, afirmou. Não há ainda números consolidados no Brasil. Já fora, de janeiro a abril, o índice S&P 500 ESG, que acompanha empresas americanas dentro desta classificação, praticamente andou em linha com o índice S&P 500 – ficou 0,5% acima. No mesmo período, os índices MSCI (voltado ao mercado ESG em países emergentes) e AC Asia ESG renderam, respectivamente, 0,5% e 3,83% a mais que seus índices gerais análogos. Estima-se, que o ESG movimente, mundialmente, um mercado de US$ 30 trilhões.

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LONGO PRAZO Pensar nesse ambiente é necessariamente pensar no tempo expandido. A diretora de operações da gestora Perfin, Carolina Rocha, conta que, em geral, a visão de longo prazo dos investidores brasileiros em ações era de cinco anos. Mas isso tem mudado após a disseminação do ESG e acontecimentos de ordem ambiental. “O acidente com a barragem da Vale contribuiu muito para isso”, disse. A Perfin identifica empresas cujas atividades são mais nocivas ao meio ambiente, mesmo que lucrativas, para, assim, avaliar o grau de exposição que podem ter dentro de uma carteira. O método foi útil quando a barragem de Brumadinho ruiu. “Tínhamos uma posição pequena da Vale em nossa carteira.”

Tudo isso indica que as mudanças vieram para ficar, não só quanto a meio ambiente, mas também em relação a diversidade e ética. Assim como Fink, outra participante da Expert XP, Adena Friedman, CEO da Nasdaq, defende que o capitalismo está mudando e a criação de valor para a economia como um todo ganha destaque. É a responsabilidade nas esferas ambiental, social e de governança como novo motto. “A essência do capitalismo é fornecer uma oportunidade igual para que cada um possa encontrar sucesso”, afirmou. “Isso não significa que todos aproveitarão essa oportunidade, mas que todos devem ter um ponto de partida igual.”

Ambientalista dos bilhões

Preocupado com as mudanças climáticas, Fink, criador do BlackRock, o maior fundo de investimentos do mundo, promete direcionar US$ 1 trilhão a ativos com critérios sustentáveis.