A outrora seca região de Petrolina, no sertão pernambucano, pode ganhar lugar de destaque nas cartas de vinho dos melhores restaurantes brasileiros. É isso mesmo. Graças a uma associação entre a Miolo, tradicional vinícola gaúcha, com o grupo Raimundo da Fonte ? uma das companhias mais fortes do Nordeste, com operações espalhadas por áreas como refrigerantes, produtos de limpeza e vinagre ? até o final do ano estará funcionando na cidade uma das mais modernas unidades de produção da bebida no País. Dela, devem sair os vinhos Terranova, destinados a disputar os mercados mais sofisticados do País e do mercado internacional. ?Vamos competir em pé de igualdade com as melhores marcas?, garante o diretor comercial Fábio Miolo, um dos cinco bisnetos de Giuseppe Miolo, fundador da empresa. Desde 1999, o executivo vem testando as uvas colhidas em áreas irrigadas do Vale do São Francisco (PE) e constatou que tem nas mãos matéria-prima de primeira. ?Os testes mostraram que o vinho conquistaria o paladar dos consumidores mais exigentes?, garante ele, que teve de montar um complexo esquema de transporte das frutas até o Sul ? seis caminhões refrigerados a zero grau, carregando dez toneladas cada um, cruzaram os 3,7 mil quilômetros até Bento Gonçalves, onde a Miolo administra mais de 130 hectares com parreirais.

A viagem das uvas acaba nos próximos meses. Inicia-se, então, um negócio com sabor especial para a empresa. Embora Giuseppe tenha aportado no Brasil há 103 anos, a família só começou a produzir seus primeiros vinhos em 1989, depois de perdas conecutivas, nos anos 80, nas safras das uvas. ?Passamos de fornecedor a produtor de vinho?, conta Fábio. O grande salto, porém, veio a partir de 1997, quando a empresa adquiriu novos equipamentos para a ampliar os volumes produzidos. Há quatro anos, a Miolo produzia mais de 350 mil litros. Neste ano, serão três milhões de litros com a produção no Sul do País. Até o final de 2000, mais de R$ 2,5 milhões terão sido aplicados em modernização.

A marca se consagrou graças ao fortalecimento da distribuição. De 1998 para cá, as vendas subiram, por ano, 150%. Com o projeto no Nordeste, as perspectivas são ainda melhores. Mas como isso aconteceu? No final daquele ano, os executivos da Miolo notaram que, para ampliar a produção, precisariam contar com outras safras ? lá, são três colheitas anuais contra uma no Sul do País. E mais: as uvas nordestinas assegurariam uma qualidade de vinho similar aos badalados Shirraz, da Austrália, um dos maiores exportadores da bebida no mundo. A ousadia da família Miolo já se mostra acertada. A produção de vinhos em Pernambuco encostará em 2001 nos três milhões de litros, o mesmo volume que sai dos tonéis de Bento Gonçalves para as mesas dos apreciadores do vinho gaúcho.