As redes supermercadistas Grupo Pão de Açúcar (GPA), Carrefour e Grupo BIG obtiveram pontuações baixas em quatro temas que avaliam o início da cadeia de distribuição: o campo. O novo relatório “Por trás das Suas Compras”, da Oxfam Brasil, analisou a transparência das empresas, a relação com os trabalhadores rurais e os pequenos produtores, além dos direitos das mulheres.

As companhias, que controlam juntas 46,6% do setor supermercadista no País, pontuaram mal nos assuntos e, quando comparadas a outros grandes supermercados da Europa e Estados Unidos, ficaram para trás.

Juntos, os supermercados brasileiros alcançaram média de 4% numa escala em que uma empresa totalmente responsável com direitos humanos ganharia 100%.

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O relatório da Oxfam teve como foco apenas os três maiores supermercados brasileiros em relação à responsabilidade corporativa.

A base para os cálculos são informações públicas das companhias referentes ao período entre entre julho e setembro de 2020. Os resultados foram tabelados em um sistema de pontuação.

O supermercado brasileiro com o melhor desempenho, comparativamente entre os três, foi o GPA, com 6,5%, seguido pelo Carrefour, com 2,7%, e pelo Grupo Big, com 2,2%.

Quando colocados frente aos maiores supermercados europeus e americanos, em uma lista de 19 empresas, o GPA fica empatado em décimo quarto com o Albertsons, dos Estados Unidos, e o Carrefour e o Grupo Big figuram nas últimas posições do ranking.

“Ainda estamos muito distantes das melhores práticas sobre responsabilidade com direitos humanos nas cadeias de fornecimento. A boa notícia é que os três maiores supermercados brasileiros têm os recursos, além de capacidades e condições para estar entre os mais avançados. Só falta a decisão empresarial de fazer”, afirma Gustavo Ferroni, coordenador da área de setor privado, desigualdades e direitos humanos da Oxfam Brasil.

Entre os problemas associados às cadeias produtivas de alimentos no Brasil estão: trabalho precário, desrespeito às mulheres, baixos salários e exposição a produtos tóxicos. A consultoria avalia que as três empresas têm grande potencial de estabelecer as tendências do que deve ser o padrão de excelência no setor.

Segundo Ferroni, o objetivo do estudo é justamente estimular uma “corrida para o topo” entre essas companhias. “Recomendamos que os supermercados utilizem o scorecard de avaliação da Oxfam Brasil para avançar em seus compromissos e práticas com relação aos direitos humanos”, ressalta.

Veja a pontuação das três empresas:

Veja a comparação com redes de outros países:

O que dizem as empresas

O GPA, que teve o melhor desempenho entre os três supermercados citados, afirmou que tem como propósito ser um agente mobilizador na construção de uma nova agenda social, ambiental e de governança para uma sociedade mais inclusiva.

“Em relação ao relatório da Oxfam, o GPA entende que as diferentes realidades e particularidades de cada país devem ser consideradas, incluindo as diferenças socioeconômicas, regulatórias e de processos produtivos que impactam nas políticas e práticas relacionadas à cadeia de produção, mas entende seu papel de apoiar com protagonismo essa transformação”, explicou a companhia, em nota.

Para o GPA, a complexidade da cadeia do varejo é um caminho que precisa ser percorrido com afinco, de maneira multisetorial. “O varejo é o elo e conexão entre fornecedores e clientes, e tem a importante oportunidade de desenvolver novas práticas junto à cadeia de abastecimento para construir um futuro que potencialize os impactos positivos.”

O Carrefour, por sua vez, afirmou por nota que “repudia qualquer prática que viole os direitos humanos ou a legislação trabalhista. A companhia preza pelo respeito e bem-estar de todos que integram suas cadeias produtivas e possui um Código de Ética e Social para Fornecedores com cláusulas específicas que os obrigam a se comprometer rigorosamente com todas as normas da legislação trabalhista vigente”.

A rede destaca que “como parte de seu diagnóstico de riscos sociais, o Carrefour Brasil está empenhado em atualizar sua análise, integrando os riscos específicos das cadeias de abastecimento alimentar e não-alimentar no Brasil e implementando medidas preventivas adequadas. Um grupo de trabalho incluindo equipes da sede do Grupo estará encarregado de definir um plano de ação englobando entidades locais, monitorando sua implementação e informando sobre ele de forma transparente”.

A empresa informa os seus códigos e políticas do grupo e de governança social estão disponíveis neste site e no Relatório de Sustentabilidade de 2019 do grupo.

Após ser informado sobre os dados do relatório que lhe diziam respeito, o Grupo BIG se posicionou, por nota, que “não teve acesso ao conteúdo [na íntegra] desse material e, portanto, não fará comentários”.