O relator no Parlamento Europeu do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, o deputado Jordi Cañas, pediu que o pacto seja retirado do “debate nacional”, alertando sobre sua importância para o bloco diante de rivais globais como a China ou os Estados Unidos.

“Todo mundo deveria agir com responsabilidade e tirar o debate do Mercosul do debate nacional”, disse Cañas à AFP, lamentando as declarações de políticos europeus “respeitáveis” que usaram “o acordo de forma irresponsável para questões nacionais”.

Os negociadores da UE e do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) chegaram a um acordo político em junho, após 20 anos de negociações comerciais, que devem passar por uma revisão jurídica antes da aprovação formal dos países europeus.

O acordo enfrenta a rejeição de alguns países, como a Áustria, à política ambiental do presidente Jair Bolsonaro, e de grupos do Parlamento, cuja aprovação é necessária para sua futura entrada em vigor.

O eurodeputado liberal espanhol Cañas pediu, assim, um debate “racional” e não “ideológico”, como ocorreu em seu parecer no final de dezembro, quando o Parlamento discutiu a adaptação do acordo do Mercosul ao Pacto Verde da nova Comissão Europeia sob propostas dos ecologistas.

“Qual era o objetivo? Demonizar o Mercosul”, disse à AFP Cañas, lamentando que o debate sobre o Pacto Verde se concentre apenas no acordo com os países da América do Sul e não no “modelo de negócios que a Europa está colocando sobre a mesa em suas negociações”.

O eurodeputado confia na aprovação do acordo no Parlamento Europeu, embora considere “um pouco apertado” sua adoção no início de 2021. Ele se comprometeu a desmascarar as tentativas de usar o acordo de forma “ideológica”.

“Se a Europa quer ser um ator global, se quer defender o crescimento sustentável, se quer defender o respeito ao meio ambiente, se quer garantir que os mercados continuem prosperando, precisa apostar e o Mercosul é uma aposta segura”, afirmou.

Cañas alertou que a UE, que “baseia sua riqueza e prosperidade nas exportações”, enfrenta “novos concorrentes globais em qualidade e produtos como a China ou os Estados Unidos”. “A Europa precisa buscar mercados alternativos e maduros, e assim é o Mercosul”, explicou.