As tensões entre a Grécia e a Turquia relacionadas com a delimitação de campos de gás no Mediterrâneo Oriental aumentaram nas últimas semanas. Muitas outras questões envenenam as relações entre esses dois países, ambos membros da OTAN.

– Fronteiras marítimas –

A Turquia e a Grécia, que estiveram à beira de uma guerra em 1996 por duas ilhotas desabitadas no mar Egeu, disputam há décadas a extensão de suas respectivas águas territoriais.

A Grécia afirma que o direito marítimo internacional permite-lhe fixar o limite das suas águas territoriais em 12 milhas náuticas, contra seis actualmente. O que a Turquia rejeita.

Ancara também rejeita qualquer reivindicação das ilhas gregas na costa turca de ter uma zona econômica exclusiva, o que cortaria seu acesso aos campos de gás do Mediterrâneo e “encerraria a Turquia em suas costas”, de acordo com o presidente Recep Tayyip Erdogan.

Em novembro de 2019, Ancara assinou um acordo de delimitação marítima com o governo oficial da Líbia para dar peso às suas reivindicações no Mediterrâneo oriental.

O texto despertou a indignação da Grécia, que, para se opor à manobra turca, assinou acordo semelhante com o Egito.

– Migrantes –

A Turquia, que abriga quase quatro milhões de refugiados sírios em seu território, é uma das principais rotas percorridas por migrantes que aspiram chegar à Europa vindos do Oriente Médio, da Ásia e também da África.

Em março de 2016, a Turquia e a União Europeia assinaram um acordo polêmico que reduziu significativamente o acesso dos migrantes à Europa por meio dessa rota, em troca de assistência financeira de Bruxelas a Ancara.

A questão dos migrantes desde então se tornou uma fonte de pressão para a Turquia quando ela quer ganhar um jogo contra Bruxelas.

Assim, infeliz por não obter o apoio da UE em sua luta com a Rússia na Síria, Erdogan ordenou em fevereiro a abertura das fronteiras e permitir a passagem de migrantes para a Grécia, causando um fluxo maciço para as fronteiras entre os dois países de dezenas de milhares de pessoas.

A Turquia também acusa a Grécia de devolver ilegalmente requerentes de asilo no mar, enquanto Atenas denuncia uma campanha de “desinformação” liderada por Ancara sobre o assunto.

– Santa Sofia e o patrimônio bizantino –

Recentemente, a Turquia converteu duas das antigas igrejas ortodoxas icônicas de Istambul, Hagia Sophia (Hagia Sophia) e São Salvador de Cora, em mesquitas.

Essas decisões suscitaram temores quanto à preservação de mosaicos e afrescos cristãos nesses edifícios, uma vez que o Islã proíbe representações figurativas.

Para muitos observadores, essas conversões recentes de antigas igrejas bizantinas visam solidificar a base eleitoral conservadora e nacionalista de Erdogan, em um contexto de dificuldades econômicas exacerbadas pela pandemia COVID-19.

A Grécia reagiu fortemente às reconversões, considerando-as uma “provocação ao mundo civilizado”.

– Minorias –

A Turquia frequentemente acusa a Grécia de discriminar a minoria muçulmana e de língua turca que vive em seu território.

Ancara denuncia especialmente o fechamento, pela Grécia, de algumas escolas pertencentes à comunidade de língua turca.

Por sua vez, Atenas repreende a Turquia por impedir a abertura de uma escola do clero ortodoxo localizada em uma ilha em frente a Istambul.

O título “ecumênico” do patriarca ortodoxo grego de Istambul também é rejeitado por Ancara.

– Tentativa de golpe de Estado na Turquia –

Outro ponto de divergência é a fuga para a Grécia de oito soldados turcos acusados por Ancara de estarem envolvidos na tentativa de golpe de 2016.

Em 2017, um tribunal grego rejeitou o pedido de extradição de Ancara.

Os militares turcos negaram qualquer envolvimento na tentativa de golpe e alegaram que decidiram fugir por medo de represálias.