Ser “crente” não é sinônimo de coisa boa sob a ótica de uma grande parcela da população brasileira. Na maioria das vezes, o termo criado pelo dicionário popular para se referir aos evangélicos – que somam 65,4 milhões de pessoas, ou 31% da população, segundo o Datafolha – é pejorativo e carregado de conotações negativas. Crente é chato, crente é intolerante, crente é hipócrita, crente é cego… E não se depila, não assiste televisão, não celebra datas e, nas festinhas, só toma suco e refrigerante. Basta perguntar, discretamente, para um amigo próximo e sincero para ouvir qual é a imagem do crente na sociedade brasileira. A lista de apelidos jocosos é extensa.

Os rótulos, infelizmente, não representam por completo uma injustiça. De forma mais intensa nos últimos anos, algumas denominações evangélicas ajudaram a criar e a transmitir essa imagem negativa para os “mundanos” – os que, segundo eles, fazem parte do mundo, não da igreja. E a reputação está piorando. A relação promíscua entre alguns líderes de instituições evangélicas e o bolsonarismo tem incluído novos adjetivos à tabela de rótulos que definem o crente. O recente escândalo envolvendo o ministro da Educação, Milton Ribeiro, está aí para provar essa realidade.

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A deterioração da fama do crente é de fácil compreensão. A conexão entre pastores e Bolsonaro é um troca-troca de interesses. De um lado, igrejas dão apoio ao presidente em cultos e encontros religiosos para unificar o aprisco da base eleitoral. De outro, ganham anistias bilionárias de impostos e cargos no governo.

O presidente Jair Bolsonaro não é – e nunca demonstrou ser – um cristão. Nem católico e nem muito menos evangélico. Não estende a mão para ajudar, nem para fazer o sinal da cruz ou para receber alguma bênção. Usa a mão para sinal de arminha. Seu culto à ignorância, sua postura boçal em praça pública, suas piadas que menosprezam minorias, seu desprezo à vida e sua forma indecente de governar o País comprovam que a máscara de crente, embora ainda convença multidões, não passa de uma fantasia mal elaborada.
Entre diversas denominações, a real face de Bolsonaro já está evidente. No ano passado, o “Manifesto da Coalizão Evangélica contra Bolsonaro”, assinado por 37 entidades religiosas, afirmou que o “bolsonarismo cria uma religiosidade mentirosa” e atacou a postura negacionista do presidente diante de uma tragédia que matou mais de 650 mil irmãos.

A mistura entre cristianismo e bolsonarismo será letal à reputação cristã. Muitos ainda não entenderam que o Brasil precisa se preservar como um Estado laico, e isso não significa ser um Estado ateu. Se ter fé é acreditar naquilo que não se vê, passou da hora de os evangélicos adotarem uma nova postura, baseada naquilo que todos nós temos visto. O slogan da campanha de Bolsonaro, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32) parece ter sido uma profecia do Messias do Palácio do Planalto sobre seu próprio fim.