A aprovação da reforma da Previdência não basta para resolver o problema fiscal brasileiro, afirma o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. O banco estima a necessidade de um ajuste fiscal de 3,8 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB) – R$ 1,8 trilhão – para estabilizar a dívida pública, ou seja, o equivalente a 1,5 vez o impacto da reforma originalmente proposta pelo governo (R$ 1,2 trilhão em 10 anos). Por isso, o Planalto vai precisar de medidas adicionais para reduzir gastos públicos.

Mesquita prevê que a aprovação da reforma da Previdência deve ocorrer na segunda metade do ano, com economia fiscal de 50% a 75% do esperado pelo governo.

“A Previdência é a medida mais importante, mas não a suficiente para o Brasil voltar a ter reequilíbrio fiscal”, destaca o economista do Itaú especialista em fiscal, Pedro Schneider. “A reforma não é suficiente nem para voltar a ter superávit primário.” Por isso, são necessárias medidas fiscais adicionais, como revisão das regras de reajuste do salário mínimo e mais controle dos gastos com funcionalismo públicos.

Diluição

Quanto mais o texto da Previdência for diluído no Congresso, mais medidas fiscais adicionais serão necessárias. O nível de superávit primário que estabiliza a dívida brasileira é estimado pelo banco em 1,2% do PIB. Em 2019, o país deve ter déficit primário de 1,5%. Em 2027, o resultado primário teria que estar 3,8 ponto do PIB mais para estabilizar a dívida.

Schneider destaca que aumentou a consciência na sociedade sobre a necessidade de reforma da Previdência. “Não conheço exemplo claro no mundo de uma manifestação pedindo esta reforma”, disse ele, ressaltando que a aprovação, porém, não depende só de apoio popular, mas da capacidade de articulação do governo.

Caso a Previdência avance, o Banco Central pode começar a cortar juros a partir de setembro, prevê o Itaú. “Isso não tem sido comunicado pelo BC, que tem apontado mais para manutenção da Selic. Mas daqui até setembro tem chão”, disse Mesquita. Ele prevê cortes graduais da taxa, com a taxa básica devendo terminar este ano em 5,75% e recuar para 5,5% em 2020.