Desculpe o transtorno, estamos em reforma. A placa, colocada na portaria da Andersen Consulting, em São Paulo, é emblemática do momento atual que vive a companhia. Vai muito além das tábuas, pregos e parafusos e do entra-e-sai de pedreiros no escritório da empresa de consultoria. ?Estamos numa reforma geral e global?, garante o presidente da Andersen do Brasil, Mário Fleck. Entenda por isso a maior virada da história da empresa. Esqueça tudo o que se sabe sobre a Andersen de hoje. Vem aí um movimento mundial que vai transformá-la em uma gigante do setor de serviços, não mais apenas de consultoria. A transformação começa pelo nome ? até para se livrar do vínculo com a Arthur Andersen, união que provocou alguns dissabores para ambas as partes. Nesta semana, a Andersen Consulting anuncia o título que irá adotar à meia-noite do dia 31 de dezembro deste ano. De um total de cinco mil sugestões, feitas por funcionários e por uma empresa contratada, restam apenas cinco opções. A empresa garante que ainda não chegou a um veredicto (não quer estragar a festa). O que se sabe é que batizou o projeto de Yello, nome fictício que está sendo usado internamente para tratar a revolução que se anuncia.

De onde saiu o Yello, ninguém sabe. O que ninguém na Andersen tem dúvidas é de que o novo nome é apenas a ponta de lança da virada. E o que vem por aí não é pouco. Em reunião realizada na semana passada, em Miami, os 2,5 mil sócios mundiais chegaram a uma decisão histórica: a empresa vai abrir o capital, fato inédito no setor. ?Não é oba-oba de IPO. Estamos nos transformando em uma corporação?, garante Fleck. Parcerias estão sendo firmadas, novos braços de negócios entram em atividade, aquisições estão nos planos. Recentemente, a Andersen uniu-se à Microsoft e criou a Avanade, voltada para a implementação de toda as soluções tecnológicas da empresa de Bill Gates no mundo corporativo. Nasce também a Andersen Ventures, que já conta com uma carteira de 40 negócios na área de tecnologia e biotecnologia, atuando como investidora capitalista. Há ainda o complexo chamado Business Launch Center. São 25 escritórios ao redor do mundo, cuja função é dar suporte administrativo, técnico e de infra-estrutura para empresas iniciantes. ?É o que chamamos de acelerador de empresas?, diz Fleck. Para terminar esta primeira fase de mudanças, surge a E-People Serv, fornecedora de serviços digitais para a área de Recursos Humanos, como programas de treinamento interativos e softwares desenvolvidos especialmente para a atividade.

Destaque brasileiro. ?A Andersen do novo século nasce com 60% de sua receita proveniente das atividades de consultoria e os 40% restantes com negócios em atividades com grande potencial de crescimento como Internet e biotecnologia?, afirma Fleck. Hoje, o faturamento da companhia é de US$ 10 bilhões. Em dois ou três anos, este número, com o reposicionamento, deve saltar para os US$ 30 bilhões. No Brasil, a estimativa é de que os atuais US$ 200 milhões se transformem, no mesmo período, em algo em torno do meio bilhão de dólares. A filial brasileira, aliás, vem ganhando especial atenção do escritório de Nova York, centro das decisões da empresa. No último ano, a Andersen do Brasil apresentou crescimento de 30%, maior índice entre todos os escritórios nos 44 países onde a Andersen atua. A nova área de Venture Capital, por exemplo, de olho no potencial de crescimento do País, nas privatizações e na enxurrada de empresas estrangeiras, analisa possíveis aquisições por aqui. O mesmo ocorre com o Business Launch Center, acelerador de empresas. O departamento já trouxe uma companha israelense para atuar no setor de energia elétrica no Brasil. ?Estamos construindo uma empresa extremamente sólida, com forte atuação tanto na velha como na nova economia?, resume o presidente do escritório brasileiro. Agora, é só aguardar o nome.