O Brasil é um caso à parte quando se trata de indústria automobilística. Por vários motivos, o País não está acompanhando a revolução que acontece no mundo globalizado quando o assunto é automóvel. Por isso, está atrasadíssimo na questão dos carros elétricos – que estão chegando com tudo em outras partes do mundo – e nem mesmo o programa Rota 2030, que substituirá o Inovar-Auto a partir de 2018, está totalmente fechado.

Por causa disso, os fabricantes que brilham globalmente não são necessariamente os mesmos que dão as cartas no Brasil. E vice-versa. Por isso, os carros mais vendidos do mundo nunca chegam a ameaçar o reinado dos nacionais Volkswagen Gol, Fiat Palio e Chevrolet Onix – os únicos campeões de venda nos últimos 30 anos. Se você quiser ter uma ideia das verdadeiras forças da indústria automobilística mundial, esqueça o Brasil. O mercado brasileiro só é relevante na América do Sul.

Um exemplo disso é a FCA (Fiat Chrysler Automobiles), que disputa carro a carro a liderança com a GM (General Motors) no Brasil, mas é apenas a 9ª colocada no ranking mundial de vendas. E a GM, proprietária da marca Chevrolet, ocupa a 4ª posição em Pindorama.

A melhor surpresa da indústria mundial em 2017 é mesmo a Aliança Renault-Nissan. O grupo franco-japonês foi o que mais vendeu carros de passeio e comerciais leves no mundo em junho, segundo a consultoria Focus 2 Move, que computou as vendas de 140 mercados. Foram 924 mil veículos leves vendidos das marcas Renault, Nissan, Lada, Dacia, Datsun e Mitsubishi (adquirida no ano passado por US$ 2,3 bilhões). Uma associação de peso que ainda não repercutiu no Brasil.

A dobradinha Renault-Nissan tem uma estratégia tão forte que é associada até da Samsung Motors, que, evidentemente, levará a tecnologia da comunicação móvel para os futuros carros do grupo. Demonstra que o brasileiro Carlos Ghosn, presidente da Aliança, foi mais esperto do que os coreanos da dupla Hyundai-Kia, pois conseguiu um parceiro estratégico dentro da casa do adversário, pois a Samsung também é coreana.

No ranking do primeiro semestre (janeiro a julho), a Aliança Renault-Nissan também mostrou sua força. Pela primeira vez nos últimos cinco anos um fabricante se intrometeu no meio da disputa dos grupos Volkswagen (inclui Audi e outras marcas) e Toyota (inclui Lexus). Os números de venda globais do primeiro semestre e as variações em relação ao mesmo período do ano passado são os seguintes:

 

 

Chama atenção as quedas vertiginosas de duas duplas: a coreana Hyundai-Kia (-11,9%) e francesa Peugeot-Citroën (-5,6%). Numa demonstração de que a indústria japonesa vive um bom momento, além da própria Aliança Renault-Nissan (que subiu 7,9% com o reforço da Mitsubishi), a Honda e a Suzuki tiveram os maiores crescimentos entre os 10 maiores grupos, com 9,5% e 9,3%, respectivamente.

Quanto ao ranking de carros, o Japão continua dando as cartas, com dois modelos entre os quatro mais vendidos no primeiro semestre de 2017 – e ambos com sucesso também no Brasil. O Toyota Corolla lidera com 615 mil vendas, seguido da picape Ford F-Series (519 mil), do Volkswagen Golf (443 mil) e do Honda Civic (393 mil). O carro mais vendido da Aliança Renault-Nissan é o Nissan Qashqai, um SUV/crossover um pouco maior que o nosso Kicks. Mas isso não importa muito. Quando o assunto é carro elétrico, o Nissan Leaf ainda aparece como o principal modelo do mundo (mais de 200 mil vendas de 2010 a 2015).

Não é pouco relevante o fato de que a Renault-Nissan nunca se interessou pelos carros híbridos, que combinam um motor elétrico com um motor convencional. Na visão da Aliança, os carros elétricos não passam de uma transição para o verdadeiro mercado do futuro, os veículos 100% elétrico. E esse futuro está cada vez mais próximo.