O candidato populista lidera as pesquisas eleitorais por ampla maioria, varrendo do mapa os partidos tradicionais. Seu favoritismo é explicável. As principais críticas dos eleitores são a corrupção desenfreada no governo e a violência, que tem feito vítimas em profusão tanto nas cidades quanto nos grotões. Com isso, candidatos de partidos que ocuparam o poder durante décadas não têm a mínima viabilidade eleitoral. Trata-se, é claro, da eleição presidencial no México, realizada no dia 1º de julho.

O resultado das urnas confirmou uma surpreendente mudança de opinião do eleitorado. O candidato Andrés Manuel López Obrador, fundador do Movimento de Renovação Nacional (Morena) derrotou, por maioria absoluta, os postulantes do governista Partido Revolucionário Institucional (PRI) e do Partido de Ação Nacional (PAN), que, no ano 2000, havia desalojado o PRI do poder após 71 anos ininterruptos. Obrador, um populista de centro-esquerda que já governou a Cidade do México, venceu com um discurso de renovação, atacando “a máfia do poder” que enriqueceu às custas do povo. No entanto, suas propostas são vagas. Em um momento, ele defende o equilíbrio das contas públicas. No outro, fala de programas de distribuição de renda e de investimentos para estimular o crescimento.

Campanhas eleitorais são uma disputa de narrativas. Ganha quem for mais bem-sucedido na elaboração e na venda de uma imagem que satisfaça os desejos dos votantes. Porém, só será possível saber de fato qual Obrador foi eleito quando ele assumir o cargo e começar a trabalhar. Nesse meio tempo, os mercados reagem. No fim de junho, o banco central mexicano elevou as taxas de juros referenciais pela segunda vez em 2018, para 7,75% ao ano. Os prognósticos são de que as taxas estejam acima de 8% na virada do ano, maior nível desde 2009.

Brasil e México são, respectivamente, a primeira e a segunda economias da América Latina, mas há enormes diferenças entre eles. A principal é a inserção internacional. A mexicana é menos diversificada. O general Porfírio Diaz (1830-1915) que, com algumas interrupções, presidiu o México por quase trinta anos, definiu bem a posição de seu país no mundo. “Pobre México! Tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos!”, teria dito Diaz durante um dos vários atritos com o vizinho ao norte do Rio Grande – aquele que Donald Trump quer murar.

Apesar das diferenças, há um ponto em comum entre Brasil e México. Os solavancos no mercado internacional os afetam com força e as consequências sobre suas economias e políticas são graves e imprevisíveis. Por isso, se os juros mexicanos sobem, por aqui o dólar permanece irrequieto. A moeda americana encerrou junho a R$ 3,86, alta de 3,1% no mês e 17,7% no ano. A justificativa para o enfraquecimento do real é a alta dos juros nos Estados Unidos. Na prática, os juros privados referenciais de dez anos encerraram junho a 2,99% ao ano. Seis meses atrás elas estavam em 2,7% e a alta de 0,2 ponto percentual não pode ser considerada ampla. O que mudou foram as perspectivas econômicas.

A retórica beligerante e protecionista de Trump deteriora as expectativas do mercado, provocando uma fuga para o dólar como proteção. Como no México, o Brasil terá eleições em poucos meses. Como no México, os candidatos que despontam na preferência do eleitorado flertam, em maior ou menor grau, com propostas populistas. E aí reside o fermento para a turbulência dos mercados, que está longe de acabar.