Principal centro de referência no combate a infecções de São Paulo, o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, da capital paulista, complexo que está no centro das ações de combate ao novo coronavírus no Estado, chega combalido ao momento de enfrentamento da doença. Dois de seus nove andares estão fechados, incapacitados de receber pacientes, e o pronto-socorro antigo, que também estava fechado, teve de ser reaberto às pressas para receber os pacientes com covid-19.

Até esta quinta-feira, 19, dos 16 pacientes do Estado suspeitos de estarem com o novo coronavírus internados em estado grave, com risco de morte, só dois estão na rede pública – ambos no Emílio Ribas. A direção do hospital argumenta que, com uma série de medidas adotadas nos últimos dias, a unidade está apta a atender a demanda que se aproxima.

 

O complexo, fundado em 1880 e que já teve como diretor o infectologista David Uip, atual coordenador do Centro de Contingenciamento do Coronavírus do governo do Estado, está em uma reforma que se arrasta há seis anos. Se essa intervenção já tivesse sido concluída, o instituto poderia ter 242 leitos de internação – a unidade abriga cerca de 150, mas hoje 78 estão funcionando. Desse total, 20 foram adaptados para se transformarem em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) para pacientes infectados.

A unidade, onde em situações normais há demanda alta de pacientes soropositivos, tinha o aparelho de tomografia quebrado desde dezembro – os pacientes eram encaminhados para o Hospital de Heliópolis, na zona sul, também referência para essa enfermidade. O aparelho foi consertado na segunda-feira, 16.

Três médicos do hospital ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo sob condição de anonimato relatam falta de profissionais para atendimento das novas demandas, considerando que é esperado que uma parte deles fique infectada, como tem ocorrido nos demais países e que houve avanço da doença. Já há um médico em quarentena, suspeito de ter contraído o novo vírus, segundo esses três profissionais.

O 4º e o 8º andares do prédio estão inteiramente vazios por causa da reforma. É uma obra que se iniciou em 2014 para ampliar o espaço, que faria o número de UTIs pular de 17 para 47, além de outras adaptações. O serviço estava estimado em R$ 160 milhões.

Na prática, porém, as reformas reduziram a capacidade de atendimento do centro médico. Segundo os médicos entrevistados, antes da epidemia atual só 12 dos leitos de UTI estavam funcionando. “A gente poderia estar com capacidade muito melhor”, disse um desses profissionais.

O pronto-socorro do Emílio Ribas funciona no 3º andar. A cada turno, são seis médicos trabalhando no setor, com auxílio dos enfermeiros. Desde que a crise estourou, a sala onde funcionava o antigo pronto-socorro, no térreo, foi reativada, de forma improvisada. Mas, segundo os profissionais, o número de médicos e enfermeiros ainda não foi incrementado para dar conta da nova demanda.

“As pessoas estão sendo atendidas. Não tem paciente sem atendimento. A questão é que havia capacidade de se fazer muito mais, atender muito mais gente”, afirmou um dos médicos.

Havia expectativa entre o corpo clínico de que as obras fossem priorizadas já no enfrentamento de outro surto, o da febre amarela, em 2017. Naquele ano, o governo do Estado, chegou a inaugurar uma primeira etapa da reforma. Mas os serviços vêm sendo feito aos poucos.

Diretor do Instituto Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Júnior destaca que as obras foram sendo executadas em meio a um cenário de ajuste fiscal e a ideia era fazer os trabalhos sem reduzir a capacidade de atendimento, o que demandou tempo. “Assim que essa gestão assumiu, o doutor (José Henrique) Germann (secretário estadual de Saúde) determinou a retomada das obras.” Ele diz que, com arranjos feitos nos últimos dias, o número de leitos de UTI foi ampliado e pode haver mais adaptações.

“Hoje temos disponíveis 30 leitos (de UTI). E estamos discutindo várias iniciativas. Estou há 30 anos no hospital e nunca vi tantas decisões sendo tomadas com tanta rapidez”, argumenta.

“Os pacientes que temos hoje, que têm demandado atenção, são pacientes que têm fundamentalmente problemas neurológicos e pulmonares. Uma UTI geral pode manejar esses pacientes. A programação é que pacientes que precisam de leitos sejam transferidos para outros serviços, para que a gente concentre os leitos que precisam de isolamento nos quartos que temos para que esses pacientes de coronavírus fiquem concentrados lá”, diz, ao alegar que a estrutura do hospital dará conta da demanda. “Nos preparando para o pior, torcendo para o melhor. Se necessário, podemos chegar a 96 leitos de terapia intensiva”, finaliza.