A redução do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) teve efeito sobre a inflação de julho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês foi -0,68%, ante 0,67% em junho.

Foi a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. No ano, o IPCA acumula alta de 4,77% e, nos últimos 12 meses, de 10,07%, abaixo dos 11,89% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2021, a variação havia sido de 0,96%.

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“A margem para queda de preços geral que a redução do ICMS sobre esses produtos possibilita é grande, podendo gerar um efeito em cadeia sobre a economia e permitir a redução de preços de outros produtos”, afirma o economista Diego Rodrigues. Para ele, embora o impacto seja percebido pelos consumidores nesse primeiro momento, esse efeito será diluído ao longo do tempo.

“Cabe ressaltar que a inflação se tornou um problema no mundo inteiro, e não somente em virtude dos preços de combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte. Esses são certamente alvos importantes de uma política de redução tarifária que visa combater a inflação, mas o resultado global da variação de preços dependerá de outros fatores e do desempenho da economia nos próximos meses”, explica o economista.

Grupos

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, dois apresentaram deflação em julho, enquanto os outros sete tiveram alta de preços. O resultado do mês foi influenciado principalmente pelo grupo dos Transportes que teve a queda mais intensa (-4,51%), e contribuiu com o maior impacto negativo (-1,00 ponto percentual) no índice de julho.

“A queda de 4,51% no grupo dos Transportes deve-se, principalmente, à redução no preço dos combustíveis (-14,15%). O preço da gasolina caiu 15,48% e o do etanol recuou 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem IPCA, com -1,04 p.p”, diz nota do IBGE.

Foi registrada queda no preço do gás veicular, com -5,67%. O único combustível com alta em julho foi o óleo diesel (4,59%), cujo resultado ficou acima do mês anterior (3,82%). Também houve recuo nos preços do grupo Habitação (-1,05%), com impacto de -0,16 p.p. A maior variação positiva, por sua vez, foi do grupo de Alimentação e bebidas (1,30%), que acelerou em relação a junho (0,80%), contribuindo com 0,28 p.p.

“O recuo do grupo Habitação (-1,05%) está relacionado especialmente à queda da energia elétrica residencial (-5,78%). Após a sanção da Lei Complementar 194/22, vários estados reduziram a alíquota de ICMS cobrada sobre os serviços de energia elétrica. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou as Revisões Tarifárias Extraordinárias de 10 distribuidoras espalhadas pelo país, reduzindo as tarifas a partir de 13 de julho”, explica o IBGE.

Vestuário (0,58%) e Saúde e cuidados pessoais (0,49%) seguiram movimento inverso, desacelerando em relação ao mês anterior (quando registraram 1,67% e 1,24%, respectivamente). Os demais grupos ficaram entre o 0,06% de Educação e o 1,13% de Despesas pessoais, segunda maior variação positiva em julho.

“É possível que tenhamos uma redução na escalada da inflação no próximo mês e até o fim do ano. Teremos uma deflação pontual em um mês e pode ser que os combustíveis parem de subir, mas seguiremos com inflação até o final do ano”, afirma Vinícius Machado, economista e gestor de investimentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).