As escolas particulares têm índices baixíssimos de crianças muito atrasadas na educação básica. Em apenas 1,8% das cidades brasileiras, um em cada quatro jovens está cursando o 1.º ano do ensino médio privado com grande defasagem de idade. Em todos os outros anos os porcentuais são menores ainda.

“Quem coloca seu filho numa escola e paga o ano todo para ele ser reprovado?”, questiona a professora da Unifesp Márcia Jacomini. Segundo ela, apesar de nem todas as escolas particulares serem melhores que as públicas, o princípio é outro. “Elas trabalham com uma perspectiva de todos aprenderem. Além disso, pedem aos pais para levar ao psicólogo e ao fonoaudiólogo quando há problemas de aprendizagem.”

Para uma professora da rede particular em São Paulo que prefere não ter o nome publicado, a escola atua como uma empresa. “Faz de tudo para manter o aluno. Deixa até de defender o professor para beneficiar o estudante.” A rede privada, em geral, também tem mais estrutura para oferecer acompanhamento e avaliação individualizada do aluno. Há ainda aulas de reforço durante o ano para ajudar os que não estão conseguindo aprender no horário regular.

O presidente da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) e diretor do Colégio Bandeirantes, Mauro Aguiar, lembra que há 20 anos havia muito mais repetência. “Hoje o trabalho de recuperação é sofisticado, com uso de tecnologias. A escola tem todo o interesse de recuperar o aluno.” Ele conta que o Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, usa videoaulas com linguagem de games. Além de atrair o jovem para o conteúdo, elas não são mera repetição do que se viu na sala de aula. Aguiar explica que não há mais repetência em casos em que o estudante se sai mal em apenas uma disciplina. “É preciso faltar muita base de Português e Matemática, áreas fundamentais.”

Evolução

O estudo do Iede e do QEdu mostra que o problema era ainda mais grave em 2006, uma década antes da medição atual. Naquele ano, 46,1% das cidades tinham metade dos jovens muito atrasados no 1.º ano do ensino médio. Hoje, são 15,2% das cidades. “Houve avanços, mas as taxas ainda são altas pelo malefício que causa a reprovação”, diz Ernesto Faria, do Iede. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.