Quando uma empresa passa por uma grande dificuldade, uma das primeiras estratégias é a criação de um comitê de crise. Depois disso precisa-se criar um departamento para se dedicar apenas a solver este problema. Trazendo para a política nacional, a decisão do presidente Jair Bolsonaro em recriar o Ministério do Trabalho pode até parecer uma ação de enfrentamento do desemprego recorde que assola mais de 15 milhões de brasileiros, mas passa longe disso. Na prática, a ação é uma estratégia para abrir espaço para aliados políticos do presidente transitarem na alta cúpula do governo, sem a necessidade de desmanchar antigos laços.

Reforma ministerial não vai mudar orientação da equipe econômica, diz Guedes

Para quem perdeu o noticiário, explico melhor. Na quarta-feira (21) o presidente Jair Bolsonaro afirmou em uma entrevista a Rádio Jovem Pan de Itapetininga que iria fazer uma pequena reforma ministerial, e que ela seria apresentada na próxima segunda-feira. Logo depois, ele confirmou a entrada de Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e presidente do PP, no governo. O problema é que dois corpos não ocupam o mesmo espaço, e para alguém entrar, Bolsonaro teria que abrir mão ou de um ministro civil (e aliado político) como Onyx Lorenzoni ou militar como o general Luiz Eduardo Ramos. A solução foi simples: abrir uma nova vaga com a recriação do Ministério do Trabalho.

Com estes fatos políticos postos, vamos agora falar de economia. Na média dos últimos cinco anos até 2019 (data de extinção do Ministério do Trabalho) o Orçamento federal aplicado na pasta (corrigido pela inflação)  foi de R$ 19 bilhões ao ano. Em números de servidores vinculados à Pasta, a média no mesmo período foi de 10,12 mil pessoas atuando diretamente no Ministério (sem contar os cargos criados nas diretorias regionais, que são abertos pela necessidade de cada Estado). Em cifras, a recriação do Ministério será um grande peso para um governo que tem dificuldades claras de bancar o atual formato da máquina pública.

ESTÍMULO AO EMPREGO – Reginaldo Sanchez Martins, que foi secretário de desenvolvimento de emprego e renda do Ministério do Trabalho entre 2011 e 2013, afirma que os recursos repassados na recriação do ministério não seria um problema, se sua abertura significasse um plano de benefício para o cidadão e se revertesse em mais renda (e mais arrecadação). “Seria a chance de recriar um Ministério e apresentar propostas eficientes de estímulo ao emprego”, disse. Na avaliação do especialista, que hoje atua como consultor em prefeituras na Grande São Paulo, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, que até agora comandou as políticas de emprego, possui “pouca sensibilidade”, para desenvolver projetos de fomento de vagas. “Por isso o ministro da Fazenda não é o mesmo ministro do Trabalho. São pessoas que precisam ter características e habilidades distintas”, afirmou.

Até agora, os projetos de estímulo ao emprego apresentados pela equipe econômica foram um total fracasso. Houve tentativa de fazer o desempregado bancar a redução de salário de quem tinha emprego durante a pandemia, uma carteira verde e amarela que não animou empresários e políticas de primeiro emprego requentadas.  Essa era a hora de Bolsonaro fazer o que prometeu em campanha. Usar a recriação do Ministério do Trabalho para trazer uma pessoa que fosse uma referência na política de geração de emprego. Mas não foi assim que os fatos ocorreram. O escolhido foi Onyx Lorenzoni. Essa será a terceira vaga diferente de ministro (Casa Civil, Cidadania e, agora, Trabalho) que o deputado ocupará no governo Bolsonaro, onde ele consolida um total de 0 grandes contribuições para a nação.

Com tudo isso posto, o saldo final dessa semana do governo Bolsonaro foi a recriação de um ministério que pode custar R$ 19 bilhões, a abertura de concursos públicos, o presidente do PP assumindo o mais alto escalão na Esplanada dos Ministérios e mais um general mantido no governo. Ah, Bolsonaro também arriscou fazer contas nesta semana. Na mesma entrevista em que citou a reforma ministerial, o presidente opinou sobre o PIB brasileiro. “Alguns projetam um crescimento de 5% positivo esse ano… Se 5% é positivo e o ano passado foi 4% negativo, crescemos 9%. É um milagre. É uma coisa inacreditável”. Realmente, é INACREDITÁVEL.