A recessão que fecha portas também pode abrir outras. Enquanto a maioria das empresas de tecnologia americanas assiste ao valor de suas ações despencar ladeira abaixo desde abril do ano passado, as companhias de software indianas preenchem planilhas bastante otimistas. ?Uma recessão poderia ferir a todos, mas se ela for branda irá nos ajudar?, afirma Gordon Coburn, diretor-financeiro da Cognizant, uma das principais empresas indianas de programas de computadores. ?Em tempos difíceis, as companhias procuram terceirizar tarefas pagando o menor preço.? Com a proliferação das notícias sobre uma provável recessão nos EUA, Coburn chegou a refazer suas previsões de crescimento das receitas para 2001: de 35%, ele agora espera expandir 40%. E os cálculos são compartilhados pelas demais companhias indianas, como a Wipro e a Infosys, todas sediadas em Bangalore, cidade que se tornou conhecida como o epicentro da tecnologia do país.

A razão para tanta confiança em grande parte está na flexibilidade financeira dessas companhias. Uma boa fatia das suas operações está baseada no seu país de origem. A Cognizant, por exemplo, tem 70% das operações na Índia. Lá, programadores podem ser contratados a um salário inferior do que nos EUA. Assim, essas companhias podem repassar seus baixos custos para clientes como Cisco Systems e General Electric. Enquanto a Infosys, segunda maior empresa indiana de software, cobra em média US$ 43 por hora trabalhada, suas concorrentes americanas chegam a cobrar US$ 150. O resultado é um só: segundo uma pesquisa da Merryl Lynch, 46% das maiores corporações americanas pretendem terceirizar serviços de tecnologia para estrangeiros. Hoje, mais de 180 das 500 maiores multinacionais encomendam tarefas para empresas indianas. No último trimestre, as receitas da Wipro, Infosys e Cognizant cresceram 17%, a despeito da crise que tombou o faturamento das empresas americanas em 16% no mesmo período.